O aumento na pressão que Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara dos Deputados, está exercendo sobre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) foi entendido pelo mercado como um ultimato: ou Bolsonaro muda sua postura ou o centrão deixará de apoiar o Governo federal.

Ainda que aproximações e rompimentos entre o Executivo e o centrão aconteçam com relativa frequência, analistas tiveram a sensação que a pandemia e a crise política agora estão em uma nova fase. As informações são do site Infomoney.

Remédio amargo

Arthur Lira declarou que o Congresso Nacional tem “remédios políticos” que têm um efeito amargo e que alguns desses remédios são “fatais”.

A fala de Lira foi interpretada pelo mercado como um indicativo, mesmo que distante, de um processo de impeachment.

Marcio Fernandes, analista político da OhmResearch, em conversa com o Infomoney, diz acreditar que o centrão quis dizer que foi colocada no tabuleiro político a possibilidade do impedimento do presidente da República. Fernandes declarou que o mundo político nos últimos dias fez cálculos quanto ao real papel que o líder do Executivo poderia ter em uma possível transição entre o atual momento e as eleições de 2022. O Palácio do Planalto estaria indo por um caminho perigoso, declarou Fernandes.

O analista Victor Guglielmi, da Guide Investimentos, comentou que Arthur Lira é o único que pode pautar um processo de impeachment contra Bolsonaro.

O presidente da Câmara, porém, deixou claro que não é essa a sua intenção, mas o discurso foi uma clara ameaça ao ocupante do Palácio da Alvorada, que se nega a ajustar seu discurso sobre isolamento social, a importância das vacinas e tratamentos precoces, comentou o analista.

Fabio Klein, economista da Tendências, reflete que a animosidade entre o centrão e o Palácio do Planalto não surgiu por acaso.

Klein questiona a razão para que as críticas a Bolsonaro só tenham se inflamado agora, visto que os erros do presidente da República na gestão da pandemia já eram conhecidos.

Houve uma “confluência de fatores”, do retorno do nome do ex-presidente Lula como um dos concorrentes de Bolsonaro em 2022 à própria pandemia, que apesar de não ser um assunto novo, atingiu um novo nível de gravidade, diz Klein.

Victor Hasegawa, gestor da Infinity Asse, afirmou que enquanto Bolsonaro falava sobre tratamento precoce e fazia críticas ao lockdown, e o número de óbitos era inferior ao do restante do mundo, os políticos não estavam tão preocupados. Contudo, com o país se tornando o epicentro da pandemia e com a população assustada, o discurso de Bolsonaro começou a gerar atrito, apesar de o centrão compor a base aliada de Bolsonaro, o grupo de partidos não estaria disposto a participar de uma ação desastrosa na gestão da pandemia, afirmou Hasegawa.