Na última terça-feira (23), o Brasil ultrapassou a marca de três mil mortes por Covid-19 em um único dia, em um cenário em que a gestão do Governo federal, sob o comando do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), prossegue errática. No mesmo dia em que o país bateu o triste recorde, o presidente fez um pronunciamento em rede nacional às 20h30 (horário de Brasília). Em seu pronunciamento, o presidente, que sempre foi um negacionista da gravidade da Covid-19, deixou de comentar o novo recorde, assim como também não anunciou novas medidas para fazer com que os hospitais do Brasil saiam da situação calamitosa em que se encontram.

Otimismo

Segundo o jornal El País, ao não comentar as falhas de sua gestão da pandemia e na organização de uma campanha nacional de vacinação, Bolsonaro tentou passar um tom otimista, utilizando para isso omissões e mentiras. Segundo o mandatário, o governo federal não deixou de realizar medidas importantes para combater a doença, assim como combateu o caos na área econômica.

Ainda segundo o jornal, o presidente não se empenhou na extensão do auxílio emergencial para as pessoas mais necessitadas e postergou a compra dos imunizantes contra a Covid-19. No mesmo horário da fala de Bolsonaro, aconteciam panelaços contra o presidente em várias cidades do Brasil.

Redução de danos

O ocupante do Palácio da Alvorada, que continua provocando aglomerações e permanece antagonizando os governadores que, ao contrário de Bolsonaro, tentam implementar medidas restritivas, tentou tirar a atenção do novo recorde de mortes na pandemia durante sua fala na televisão.

Ainda que tenha adotado um tom moderado, diferente do que costuma apresentar, Bolsonaro não falou sobre o combate ao coronavírus e também não comentou sobre a possibilidade de um lockdown de alcance nacional, medida considerada por muitos especialistas como sendo essencial.

Em pouco mais de três minutos, o mandatário se concentrou em dar destaque a temas relacionados com a compra, distribuição e produção de imunizantes.

Jair Bolsonaro afirmou que não é possível saber quanto tempo a pandemia irá durar, porém, a produção no Brasil irá garantir que os brasileiros possam ser vacinados enquanto durar a pandemia, independentemente das variantes que venham a aparecer.

Bolsonaro declarou que o Brasil é o quinto país que mais vacinou em todo o mundo –mais de 14 milhões de imunizados–, sem mencionar que o número total de pessoas que tomaram pelo menos a primeira dose da vacina representa apenas pouco mais de 6% da população brasileira.

A vacinação vem ocorrendo de maneira lenta e, de maneira proporcional, o Brasil está atrás de mais de sete dezenas de países.

João Doria

Bolsonaro também falou que o governo liberou R$ 20 bilhões para que pudessem ser adquiridas a vacina Coronavac, por meio de um acordo com o Instituto Butantan, porém o presidente não comentou que o acordo foi assinado pelo governo de São Paulo, sob o comando do rival político de Bolsonaro, João Doria (PSDB). Jair Bolsonaro também não comentou que ele próprio foi um dos maiores detratores do imunizante desenvolvido por uma parceria entre o laboratório chinês Sinovac e o Instituto Butantan de São Paulo. Bolsonaro, assim como seus apoiadores, referia-se à vacina por nomes pejorativos como “vacina chinesa” e “vachina”.

Segundo o El País, também foi omitido pelo presidente que foi ele próprio quem atrasou a demora na compra dos imunizantes. No mês de setembro de 2020, o Ministério da Saúde desprezou uma oferta da Pfizer para uma negociação antecipada de 70 milhões de doses do imunizante, que já poderiam ter sido aplicadas em janeiro de 2021.