Uma das linhas de investigação adotada pelos senadores na comissão parlamentar de inquérito que investiga as ações e eventuais omissões do Governo federal da gestão da pandemia da Covid-19 é se o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) teria de maneira proposital adotado a estratégia de tentar conseguir a “imunidade de rebanho” sem vacinas. As informações são da BBC News Brasil.
Essa estratégia foi cogitada no início da pandemia e consiste em tentar atingir a imunidade de grupo, ou seja, quando a maior parte da população possui anticorpos contra o vírus, sem que seja preciso para isso imunizantes, por meio da contaminação da maior quantidade possível de pessoas.
Porém, não demorou muito para estudos mostrarem que o resultado dessa estratégia levaria a milhares de mortes.
Inevitável
Ainda que a pasta da Saúde nunca tenha adotado de maneira oficial essa estratégia que não utiliza vacinas, o presidente Jair Bolsonaro declarou várias vezes que a contaminação da maioria dos brasileiros seria inevitável e ainda acrescentou que "ajudaria a não proliferar" a doença.
Mais de um ano se passou desde que a crise sanitária se instalou no Brasil e o país possui atualmente o segundo maior número de óbitos no mundo --são mais de 400 mil vítimas da Covid-19--, ficando atrás somente dos Estados Unidos.
Mandetta
A linha de investigação sobre se Bolsonaro realmente escolheu a imunidade de rebanho e teve como consequência um elevado número de óbitos tornou-se central na CPI na terça-feira (4) após a declaração do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, que afirmou acreditar que essa teria mesmo sido a intenção de Jair Bolsonaro.
Mandetta ressaltou que não pode afirmar com certeza, apesar de acreditar na hipótese. Ele acrescentou ainda que o mandatário se aconselhava com pessoas de fora do Ministério da Saúde sobre o coronavírus e acrescentou que Bolsonaro foi alertado dos resultados negativos de não dar ouvidos à ciência.
Luiz Henrique Mandetta afirmou que o líder do Executivo foi avisado da projeção do alto número de óbitos caso as medidas aprovadas pela ciência, como o isolamento social e somente promover tratamentos com comprovação científica não fossem seguidas.
O senador Humberto Costa (PT-PE), integrante da comissão, falou à BBC Brasil e afirmou que se trata de uma tese forte que pode explicar a conduta de Bolsonaro.
O senador afirmou que esse procedimento é comum em doenças virais sem muita gravidade, porém não surte efeito em um vírus tão perigoso quanto o coronavírus que além de produzir quadros clínicos graves, também deixa sequelas até mesmo em pessoas que tiveram a forma mais branda da Covid-19, disse o senador que já ocupou o cargo de ministro da Saúde.
Teich
O substituto de Mandetta no comando da pasta da Saúde, Nelson Teich, afirmou que enquanto esteve no ministério essa possibilidade nunca foi levantada pelo presidente da República. Nelson Teich foi mais um que afirmou que a estratégia não surte resultado. Ele afirmou que a imunidade é conseguida por meio da vacina e “não por pessoas sendo infectadas”.
Nelson Teich acrescentou que, mesmo Bolsonaro não tendo falado sobre imunidade de rebanho no período que ele participou do governo federal, o presidente discursou em defesa do isolamento social somente para idosos e elogiou países que haviam feito a imunidade de rebanho sem terem utilizado vacinas.