Os membros da cúpula da CPI da Covid no Senado, a comissão parlamentar de inquérito que investiga as ações e eventuais omissões do Governo federal na gestão da pandemia do coronavírus, receberam informações de que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) foi pessoalmente avisado sobre irregularidades no processo de compra do imunizante indiano Covaxin.
De acordo com o relato que chegou ao conhecimento dos integrantes da cúpula da CPI, foi o deputado federal Luis Claudio Miranda (DEM-DF), irmão de Luis Ricardo Miranda, que é chefe do Departamento de Logística em Saúde do Ministério da Saúde, que relatou a situação ao presidente Bolsonaro.
Luis Ricardo Miranda denunciou a pressão que estava sofrendo para favorecer a empresa Precisa Medicamentos, que estava intermediando a compra da vacina Covaxin. O servidor prestou depoimento ao Ministério Público Federal sobre o interesse atípico do Ministério da Saúde para que fosse negociada a importação do imunizante por meio da Precisa, a representante no Brasil da empresa indiana Barath Biontech, que desenvolveu a vacina.
Segundo a Procuradoria da República no Distrito Federal, foi temerário o risco que o Ministério da Saúde assumiu ao comprar a vacina da Índia. O órgão propôs que fosse aberta uma investigação criminal sobre o contrato do governo federal com a Precisa.
De acordo com elementos reunidos, existem indícios de possíveis irregularidades no contrato para que fossem entregues 20 milhões de doses da Covaxin no valor de R$ 1,6 bilhão.
Cada dose saiu a US$ 15, preço acima de outros imunizantes que foram negociados, como o da Pfizer.
Depoimentos
A CPI da Covid se reuniu na quarta-feira (23) para decidir sobre a convocação do servidor Luis Ricardo Miranda e de seu irmão, o deputado Luis Claudio Miranda. Eles deverão ser ouvidos na próxima sexta-feira (25). A informação foi confirmada pelo relator da CPI da Covid, o senador Renan Calheiros (MDB-AL), em entrevista ao ao jornalista Gerson Camarotti, do portal G1.
Calheiros relatou em uma sessão da CPI que era preciso investigar a negociação com a Covaxin. O senador declarou que ela era “no mínimo suspeita”, ao citar o fato que o imunizante seria o mais caro que o governo federal iria adquirir, aliado ao fato que o calendário de entrega seria o mais demorado e ainda ter uma empresa fazendo a intermediação, a Precisa Medicamentos, enquanto não havia algo do tipo com as outras empresas que ofereceram vacinas ao Brasil.
A Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom) não se pronunciou sobre o caso. A Polícia Federal (PF), afirmou que não comenta e nem diz se existem investigações em andamento. O senador Fernando Bezerra (MDB-PE), líder do governo no Senado, afirmou que o relator da CPI da Covid está fazendo uma “ilação” sobre o comportamento de Jair Bolsonaro.