A médica Nise Yamaguchi prestou depoimento na CPI da Pandemia nesta terça feira (1º). Ela já foi citada em declarações anteriores de outros depoentes e sua influência no Governo foi confirmada quando foi dito que ela supostamente indicou a alteração da bula da cloroquina para a recomendação do medicamento em pacientes acometidos pela Covid-19. A CPI da Pandemia foi instaurada em março deste ano e busca eventuais omissões do poder público no enfrentamento da crise sanitária provocada pelo novo coronavírus. Já foram ouvidos ex-ministros da Saúde, o atual chefe da pasta e demais integrantes e ex-membros do governo federal.

Dentre os assuntos mais questionados no inquérito estão a vontade do governo em promover a cloroquina como remédio para a Covid-19, sendo que o medicamento não possui eficácia comprovada apra este fim. Além disso, o primeiro pesquisador da droga Didier Raoult afirmou no dia 18 de janeiro deste ano que a cloroquina não reduz mortes provocadas pelo novo coronavírus. Mesmo com diversos estudos e recomendações de autoridades internacionais, Jair Bolsonaro promoveu o remédio em suas redes sociais diversas vezes e também disse que tomava cloroquina como forma de prevenir a doença.

Nise Yamaguchi tem influência no governo

Durante seu depoimento, o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta afirmou que se deparou com documentos que pediam a alteração da bula da cloroquina.

Segundo ele, Bolsonaro queria que o medicamento fosse utilizado amplamente nos pacientes de Covid-19. Juntamente com o general Eduardo Pazuello, que também chefiou a pasta da Saúde, ele defendeu que a substância fosse recomendada como "tratamento precoce". Já a médica Nise Yamaguchi é suspeita de compor um assessoramento paralelo ao presidente, o que também foi denunciado por Mandetta. [VIDEO] A profissional de saúde defendeu o uso da cloroquina e o isolamento vertical assim como o presidente da República, o que levantou suspeitas.

Durante a sessão da CPI, o presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM), disse que as orientações da médica deveriam ser ignoradas, exaltou os imunizantes contra o novo coronavírus e disse em tom de ameaça que Nise voltaria para depor no inquérito e seria convocada ao invés de convidada.

Senador perde a paciência e eleva o tom

A médica defendeu seus posicionamentos relacionados à pandemia enquanto respondia às perguntas dos senadores, inclusive o uso da cloroquina para tratar pacientes com Covid-19. O senador Otto Alencar questionou Nise sobre o uso do medicamento, pois, de acordo com ele, a cloroquina é uma substância com eficácia contra protozoários e não possui efeitos antivirais pelo que se sabe. O parlamentar chegou a perguntar se a médica reconhecia a diferença entre um protozoário e um vírus, ela resistiu em responder e foi então que o senador exigiu repetidamente e em alto tom uma resposta. Por fim, Otto explicou a diferença entre os agentes patológicos para a médica e concluiu: "a senhora não sabe nada de infectologia".