Quando ainda era candidato, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) declarou diversas vezes ser contra o grupo político conhecido como centrão. Tal aglomerado de partidos é comumente caracterizado por se aliar ao Governo vigente e marcar presença em cargos de importância como ministérios e secretarias do governo federal. Muito dos integrantes do centrão oferecem apoio político desde que tenham poder sobre as decisões do governo ou gestão sobre orçamentos importantes. O atual presidente já criticou tal política de governabilidade e disse que não trocaria favores com o Congresso dessa forma.
Mesmo integrando o Partido Progressista por anos, o ex-parlamentar foi enfático durante sua campanha e chegou até a ofender os políticos conhecidos por esse jargão. O general Augusto Heleno, que atualmente lidera o Gabinete de Segurança Institucional, declarou em um evento de lançamento da candidatura de Bolsonaro que é contrário ao centrão. Na ocasião o militar teria dito: "se gritar pega centrão, não sobre um, meu irmão". É interessante o fato de que Jair Bolsonaro teve que ignorar suas raízes na política para constituir uma imagem de campanha contra a corrupção, que está muito atrelada ao grupo político citado.
Bolsonaro: o presidente com mais pedidos de impeachment
Desde o início de seu governo, Jair Bolsonaro tem tentado implementar políticas de sua ideologia, que foram promovidas durante a campanha e também ações consideradas inéditas para as suas declarações durante a campanha, como a privatização da Eletrobras.
O político já afirmou claramente que é contrário à privatização de uma companhia energética, alegando a soberania nacional, entretanto, a empresa correr risco de ser vendida por ação do governo federal, atualmente chefiado por ele. Muitas das vontades do presidente têm gerado críticas e ação da oposição para frear o avanço de propostas como a flexibilização de regras ambientais e de proteção aos povos indígenas.
A materialização dessa corrida dos políticos que se opõe ao governo são os pedidos de impeachment. Tais pedidos para abertura desse processo já somam mais de 100 requerimentos. Outro fator que agravou a situação do presidente é a pandemia da Covid-19, que está cercada por suspeitas de corrupção envolvendo militares e membros do Congresso e Planalto, além da questionável atuação no combate ao coronavírus, pois Bolsonaro promoveu aglomerações e indicou medicamentos sem comprovação científica para tratar a doença.
Alianças: Bolsonaro por um fio
Com a saída de Rodrigo Maia (sem partido-RJ) da liderança da Câmara dos Deputados, Bolsonaro começou a se relacionar com o centrão. Isso acarretou na eleição de Arthur Lira (PP-PI) como presidente da Câmara e de Rodrigo Pacheco (DEM-MG) como presidente do Senado Federal. Agora, políticos de partidos do centrão começam a mostrar presença no Planalto e na Esplanada dos Ministérios. É lógico que o capitão tenha buscado apoio diante de um possível impeachment e pela governabilidade. Uma grande cessão feita por Bolsonaro ao centrão se confirmou na manhã desta terça-feira (27), quando o senador Ciro Nogueira (PP-PI) aceitou de forma oficial o convite do presidente para chefiar o Ministério da Casa Civil, com sede no próprio Palácio do Planalto. Nogueira é presidente do PP e integrante do centrão.