O presidente da comissão parlamentar de inquérito da Covid-19 (CPI da Covid), o senador Omar Aziz (PSD-AM), autorizou na última terça-feira (6) que fosse retirado o sigilo do conteúdo do telefone celular do policial militar de Minas Gerais Luiz Paulo Dominghetti, que afirma ser representante da Davati Medical Supply e teve participação em negociações para oferecer ao Brasil 400 milhões de doses do imunizante da AstraZeneca. O policial militar prestou depoimento na CPI da Covid na última semana e afirmou que recebeu um pedido de propina de US$ 1 por dose de vacina contra a Covid-19.

Questão de ordem

A decisão atendeu a uma questão de ordem que foi apresentada pelo senador Rogério Carvalho (PT-SE) na sessão da terça-feira na CPI que investiga as ações e eventuais omissões do Governo federal na gestão da pandemia do coronavírus. O senador argumentou que, quando o policial militar teve apreendido seu celular, prontificou-se a dar "todas as informações para ajudar o país a resolver a questão das vacinas".

Além disso, disse o senador, o sigilo sobre o material do celular de Dominghetti não havia sido determinado ainda pela comissão. O parlamentar ainda explicou que tem especial interesse na troca de mensagens entre o PM e o CEO da Davati no Brasil, Cristiano Carvalho. A questão de ordem do senador foi deferida, ou seja, atendida pelo presidente da CPI da Covid, que declarou ainda que as conversas entre Cristiano Carvalho e Luiz Paulo Dominghetti se tornarão públicas.

'Fantástico'

A questão chamou a atenção após uma reportagem na última edição do "Fantástico", da Rede Globo, mostrar que o policial militar negociava uma comissão de 25 centavos de dólar por dose de imunizante oferecido ao Ministério da Saúde. A informação foi conseguida pela perícia depois de análise preliminar dos diálogos nos aplicativos de mensagem de Dominghetti.

Governo

O senador Fernando Bezerra (MDB-PE), aliado do governo, fez críticas à divulgação de parte do material do PM. O senador se disse “desconfortável” com a possibilidade de ter ocorrido um vazamento de informações. Bezerra afirmou que várias vezes os senadores criticaram ações da Polícia Federal (PF), que costumeiramente vaza para a imprensa informações que estariam resguardadas pelo sigilo judicial.

O senador questionou como um veículo de comunicação teve acesso ao conteúdo do celular que estava sob responsabilidade da CPI.

O telefone de Luiz Paulo foi recolhido pela comissão durante seu depoimento. Ele não ofereceu nenhuma resistência em entregar o celular. A comissão tomou a medida para esclarecer as dúvidas sobre uma mensagem de áudio do deputado federal Luis Claudio Miranda (DEM-DF) que Dominghetti apresentou na CPI. Ao mostrar a mensagem, o depoente disse que Miranda estava tentando negociar compra de vacinas, porém, em nenhum momento no áudio se fala em vacina.

Para os senadores, a atitude pareceu uma tentativa de tirar a credibilidade de Luis Cláudio Miranda, que levou à CPI da Covid a informação mais importante até agora.

O deputado e seu irmão, Luis Ricardo Miranda, um servidor público do Ministério da Saúde afirmaram que levaram ao presidente da República Jair Bolsonaro (sem partido) suspeitas sobre as negociações da vacina da Índia Covaxin. No encontro, Bolsonaro teria dito que a situação estava parecendo ser um “rolo” do deputado federal Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo na Câmara dos Deputados.