O auditor do Tribunal de Contas da União (TCU) Alexandre Figueiredo Costa Silva Marques, apontado como autor de um relatório falso sobre óbitos na pandemia do coronavírus, declarou na terça-feira (17) na comissão parlamentar de inquérito (CPI) da Covid no Senado que o documento que ele elaborou foi modificado depois de ter sido encaminhado ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

Crime

No dia 7 de junho, o ocupante do Palácio da Alvorada citou o suposto estudo para dizer a apoiadores que metade dos falecimentos por Covid-19 no ano passado teria acontecido, na verdade, por causa de outras enfermidades.

No entendimento do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), o vice-presidente da comissão, além de outros senadores, o presidente Bolsonaro cometeu crime ao divulgar o documento.

O vice-presidente da CPI afirmou, após o término da sessão, que há indícios que dão a entender que o documento foi falsificado e que isto teria acontecido na Presidência da República, ou que o ato seria de autoria do próprio Jair Bolsonaro. Segundo Alexandre Marques, foi ele mesmo que enviou o arquivo, um rascunho de um relatório, a seu pai, Ricardo Silva Marques, um coronel da reserva, no dia 6 de junho. Ricardo, então, enviou o mesmo documento ao chefe do Executivo federal, utilizando para isso o WhatsApp. O depoente desta terça-feira na CPI da Covid declarou que foi feito uso indevido do material por ter sido dito que se tratava de um documento do TCU.

Amigos

Perguntado sobre se seu pai teria algum vínculo de amizade com Bolsonaro, Alexandre contou que seu pai foi colega de Jair Bolsonaro na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman) e trabalhou com o atual presidente do Brasil no Exército.

Assim que recebeu o estudo, Jair Bolsonaro o usou como se fosse algo verdadeiro vindo do TCU para afirmar para seus apoiadores que metade das mortes pelo Sars-Cov-2 não foi causada pela doença, e sim por outras razões.

Mas o documento era apenas preliminar e usava informações que, segundo o próprio Tribunal de Contas da União e o autor do relatório, não permitem chegar a esse entendimento.

O TCU confirmou que não era um documento oficial e negou que o conteúdo do documento fosse verídico. A pesquisa realizada pelo auditor originou um "relatório paralelo", de acordo com investigação da Polícia Federal (PF) que foi pedida pelo próprio TCU.

As investigações da PF afirmam que o relatório foi produzido por Alexandre Marques de maneira clandestina tomando como base dados coletados do sistema do TCU, porém chegou a conclusões distorcidas e sem fundamentos. O presidente Bolsonaro declarou que o TCU comprovou que houve supernotificação de óbitos por Covid-19 com a intenção de beneficiar governadores que queriam conseguir mais verbas públicas para combater o coronavírus. No mesmo dia que Bolsonaro fez as declarações ele foi desmentido pelo TCU.