Assessores do presidente Jair Bolsonaro (PL) têm feito pressão para que o mandatário reconheça o resultado da eleição, como já foi feito por outros chefes de poderes no país e lideranças internacionais, como os chefes de Governo de países como Alemanha, China, Estados Unidos, França, Rússia, Ucrânia, entre outros.
O resultado da eleição presidencial foi divulgado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) poucos minutos antes das 20h do domingo (30) e, passadas mais de 15 horas, o líder do Executivo federal ainda não deu nenhuma declaração. Pela tradição, o candidato derrotado telefona para o vencedor e também concede uma declaração pública em que reconhece a vitória do adversário.
Foi isto que aconteceu, por exemplo, em 2018, quando o candidato derrotado, Fernando Haddad (PT), reconheceu a vitória de Jair Bolsonaro no mesmo domingo em que o resultado foi divulgado.
Relações exteriores
Agora, os assessores do presidente Jair Bolsonaro temem o impacto nas relações internacionais com a recusa do atual presidente de não reconhecer a vitória de seu oponente. Para tentar resolver a situação, segundo informações da colunista Andréia Sadi, do portal G1, o chanceler Carlos França foi escalado para convencer Bolsonaro a mudar sua atitude.
Desde que foi derrotado, o atual ocupante do Palácio da Alvorada não tem sido visto. Ele nem mesmo utilizou as redes sociais e também não apareceu para conversar com seus apoiadores no cercadinho, o setor na entrada do Palácio da Alvorada em que ele costuma conversar quase que diariamente com seus apoiadores, o que se tornou uma das marcas de seu governo.
O grupo que tenta fazer com que o chefe do Executivo reconheça rapidamente a derrota para Luiz Inácio Lula da Silva (PT) conta com o general Braga Netto, ex-ministro da Defesa e que deixou o cargo para concorrer à vice-presidência na chapa de Bolsonaro.
Quem também faz parte da tropa é o ministro das Comunicações, Fábio Faria, o ajudante de ordens da presidência da República, o tenente-coronel Mauro Cid, e Fabio Wajngarten, que foi o coordenador da campanha eleitoral do presidente derrotado.
Também estão na empreitada lideranças do Centrão, que até mesmo já conversaram por telefone com o presidente eleito.
Celebridade
A emissora britânica BBC entrevistou o renomado cientista político e professor da Universidade de Harvard Steven Levitsky, que escreveu o best-seller "Como as democracias morrem". Para Levitsky, o Brasil termina sua disputa eleitoral em melhores condições que os Estados Unidos em 2020.
O cientista político analisou que em uma história com tantos pontos em comum, existe uma diferença evidente, não apenas no procedimento dos mandatários derrotados –Trump e Bolsonaro–, porém entre a forma como seus aliados procederam.
Nos Estados Unidos, Donald Trump foi à TV na noite da disputa eleitoral para alegar que havia vencido o pleito e que o processo havia sido fraudado –ele continuaria a utilizar este argumento pelos próximos dois meses e a situação iria desaguar na invasão ao Capitólio, ocorrida no dia 6 de janeiro de 2021. Com tudo isto acontecendo, nenhum dos líderes do Partido Republicano se opôs aos atos temerários de Trump. O especialista aponta que no Brasil, Jair Bolsonaro não falou nada, apenas ficou em silêncio, e seus aliados é que tomaram a atitude de vir a público e reconhecer a derrota.