Reportagem exclusiva publicada na última sexta-feira (20) pelo site Metrópoles aponta que as investigações que estão ocorrendo no Supremo Tribunal Federal (STF) sob o comando do ministro Alexandre de Moraes avançam sobre um personagem-chave com estreita proximidade com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Suspeita de caixa 2

As descobertas ligam o antigo gabinete de Jair Bolsonaro diretamente à mobilização de atos golpistas e levantam suspeitas graves sobre a existência de um tipo de caixa 2 no Palácio do Planalto, com dinheiro vivo vindo, até mesmo, de saques feitos a partir de cartões corporativos da Presidência da República e também de quartéis das Forças Armadas.

Esse personagem se trata de Mauro César Barbosa Cid, um tenente-coronel do Exército. Mais conhecido como coronel Cid, ele foi ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro até os últimos dias do Governo que se encerrou no dia 31 de dezembro de 2022. O militar era homem de confiança do ex-chefe do poder Executivo federal.

Além de acompanhar Jair Bolsonaro em quase todas as ocasiões, dentro e fora dos palácios, o coronel Cid tomava conta do telefone celular de Jair Bolsonaro, ele atendia as ligações e também respondia em nome do ex-mandatário. O ajudante de ordens também era encarregado de tarefas do cotidiano da família Bolsonaro, como o pagamento de contas, o que se tornou um dos pontos mais delicados do caso.

Entre o que foi encontrado pelos policiais escalados para trabalhar com Alexandre de Moraes estão pagamentos feitos em dinheiro vindo de um caixa informal que o tenente-coronel gerenciava, faturas de um cartão de crédito emitido no nome de uma amiga íntima da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, que era utilizado para custear as despesas de Michelle.

Quebra de sigilo

Já se sabia há muito tempo que Cid era alvo dos inquéritos comandados por Alexandre de Moraes, em diferentes frentes. Ainda em 2022, o jornal Folha de S.Paulo publicou que imagens, áudios e mensagens de texto foram encontrados no celular do tenente-coronel levaram os investigadores a suspeitar das transações financeiras que ele realizou.

Isso bastou para que Moraes autorizasse quebras de sigilo que esmiuçaram as operações feitas pela equipe de Cid, muitas delas feitas em dinheiro vivo, na boca do caixa de uma agência bancária que fica no Palácio do Planalto. Na investigação, os policiais encontraram um modus operandi similar ao que fora adotado pela família Bolsonaro bem antes da chegada do patriarca do clã ao Palácio do Planalto. O Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) se dedica a investigar o possível esquema de desvio de verbas do gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj)

Atos antidemocráticos

O material de posse das autoridades sobre o tenente-coronel o coloca na cena da sucessão de atos antidemocráticos que Moraes já estava investigando e que tiveram como resultado a invasão das casas dos Poderes da República no dia 8 de janeiro.

Mensagens de texto e áudio revelam que o tenente-coronel era o elo entre Jair Bolsonaro e vários extremistas que há muito tempo incentivavam ataques às instituições. Um dos mais frequentes interlocutores do ajudante de ordens era Allan dos Santos, o blogueiro que atualmente vive nos Estados Unidos. Em outubro de 2021, Alexandre de Moraes decretou a prisão do blogueiro.

Os investigadores têm em seu poder diversas mensagens em que o ex-presidente figura como interlocutor das mensagens que o tenente-coronel mantinha em seus perfis em aplicativos e os investigadores copiaram com autorização do ministro do STF. Uma série de áudios enviadas pelo ex-ocupante do Palácio da Alvorada ao então subordinado mostram que Bolsonaro sabia e controlava tudo o que era feito por Cid, desde as operações financeiras até a interlocução com bolsonaristas golpistas.

A reportagem do Metrópoles tentou entrar em contato com a amiga de Michelle Bolsonaro, Rosimary. A mulher não quis comentar o assunto. Primeiro ela disse que não poderia falar, pois estava almoçando, quando foi abordada novamente horas depois, ela afirmou que se tratava de um assunto muito “pessoal” e se negou a falar. Na noite da sexta-feira (20), o ex-presidente Jair Bolsonaro respondeu ao Metrópoles que não existem irregularidades nos pagamentos realizados por seu ex-ajudante de ordens.