O universo evangélico brasileiro rachou após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas últimas eleições presidenciais e, aparentemente, uma espécie de "guerra santa" foi lançada. Isso porque uma parcela de apoiadores evangélicos de Jair Bolsonaro (PL) tem se prontificado tanto nas igrejas como nas redes sociais a incentivar uma intervenção militar e a recondução do ex-presidente ao poder. No entanto, há também um grupo de líderes evangélicos de grandes igrejas que buscam se aproximar do atual Governo.

Segundo informações da BBC Brasil, muitos dos defensores da intervenção militar e do retorno de Bolsonaro ao poder sequer pertencem a templos físicos.

São pastores que normalmente atuam nas redes sociais pregando ações que visam derrubar o governo eleito. Essas ações estão promovendo o que chamam de "guerra santa" ou "guerra espiritual". Os pastores justificam suas falas enfatizando em seus vídeos que a ordem para retirada do atual governo, bem como a intervenção nos três Poderes da República, vem de Deus.

Pastor bolsonarista é investigado por possíveis atos contra o governo

Um dos pastores que trabalha no movimento, Sandro Rocha, mora em Guaratuba, no litoral do Paraná, e pertence a Igreja do Porto de Cristo, situada numa casa de um bairro pobre.

No Twitter, onde usa seu segundo nome, Mauricio, o pastor possui 120 mil seguidores, enquanto no YouTube são quase 500 mil seguidores, somando mais de 75 milhões de visualizações.

Em 11 de janeiro deste ano, Rocha publicou em seu canal no YouTube um vídeo intitulado “Pequeno sinal”, acompanhado da imagem de uma explosão em uma torre de energia elétrica. Dias antes, três torres de energia haviam sido derrubadas pelo país. A polícia investiga se os atos têm alguma relação com o movimento que tenta derrubar o governo Lula (PT).

Nas redes sociais é possível encontrar o vídeo do pastor associando a derrubada de torres a uma intervenção divina. No vídeo ele diz: “Quem é que tá agindo? É Deus”. O pastor também participou do protesto de bloqueio de rodovias e foi um dos primeiros a divulgar uma fake news contendo a falsa informação de que o atual presidente Lula teria morrido e que na cadeira da presidência está um sósia.

A BBC News chegou a questionar o YouTube e o Twitter para saber se as falas do pastor Sandro Rocha não estavam violando as regras da empresa, mas não recebeu resposta.

Pastor que promove 'guerra santa' foi ao Planalto

O pastor chegou a ser recebido no Palácio do Planalto pelo general Augusto Heleno, que atuou como ministro de Segurança Institucional durante o governo de Jair Bolsonaro. Questionado pela BBC, o general Heleno disse não recordar do encontro e que se encontrasse o pastor hoje, não o reconheceria.

De acordo com o relatório semanal divulgado na segunda (13) pela organização Casa Galileia, que reúne pesquisadores e promove iniciativas diversas para cristãos católicos e evangélicos, o discurso que tomou corpo é de que "uma guerra espiritual está sendo travada no Brasil". O termo é usado por esses grupos como uma referência de "luta do bem contra o mal", onde o bem é Bolsonaro e o mal é o presidente Lula.