A capital paulista poderá conviver com nova fase de quarentena mais rígida, ou melhor dizendo, retroceder no relaxamento de medidas visadas a conter o alastramento da Covid-19. E isso pode acontecer bem mais rápido do que se imagina: a medida pode ter validade a partir de 30 de novembro, um dia após as eleições municipais de segundo turno.
No total, são quatro regiões que desfrutam do período verde do Plano São Paulo – montado com o propósito de realizar um escalonamento de ações e medidas no combate ao coronavírus. As outras regiões beneficiadas são Campinas, Sorocaba e Baixada Santista.
Todo o resto do estado de São Paulo encontra-se na fase anterior, a amarela, a qual com mais restrições. Entre elas estão Araçatuba, Ribeirão Preto, Bauru e Presidente Prudente.
O Plano São Paulo tem uma variação de cinco fases e, caso haja retrocesso de fase nas regiões onde vigem a fase verde, isso não acontecerá com as outras áreas do estado. Ao menos, é o que assegurou o coordenador-executivo do centro de contingência, João Gabbardo.
Preocupação
Nessa balança que pende para o sim e para o não, deve-se levar em consideração um certo temor manifestado pelos especialistas em Saúde e afins sobre a expansão da Covid-19.
Avisados com antecedência, tanto o Governo estadual quanto o municipal relutam em tomar providências cabíveis, pois não efetuaram uma reanálise da situação dentro da área paulista.
Fato é que o número de leitos ocupados em decorrência de novos casos de contaminação pelo vírus vem crescendo. Hospitais de referência na cidade de São Paulo, o Albert Einstein e o Sírio-Libanês vêm emitindo sinais de alerta quanto ao respeito das regras de distanciamento social, a constância de se usar máscaras e a precaução de se envolver em aglomerações.
Mesmo com ampla divulgação, muitas pessoas ignoram as campanhas de conscientização e agem como se não houvesse pandemia.
No Hospital Albert Einstein, por exemplo, o aumento de internações força à escolha de prioridade entre os pacientes e a transferência de alguns deles para outras unidades da rede.
Desde os primeiros dias de novembro, as UTI´s e enfermarias registam incremento de casos (confirmados e suspeitos) de Covid-19 na região da Grande São Paulo.
A taxa de ocupação dos leitos de UTI chega a 58%.
Somatório de um quadro
Como diz o ditado popular, “é melhor prevenir do que remediar”, a comunidade médica tem chamado a atenção do governo estadual acerca desta nova tendência e cobrado providências. No entanto, e até o presente momento (29/11), não houve qualquer ação preventiva que objetivasse à reversão ou alívio desse quadro.
Sob a ótica do governo estadual de São Paulo, o decreto que instituiu o Plano São Paulo estabelece três indicadores utilizados: quantidade de novos casos, número de novas internações (este com maior peso na análise) e quantos óbitos ocorreram.
Dentro do mesmo decreto, o texto diz que a situação deve ser analisada a cada semana e ter um tipo de “monitoramento constante”.
Mas, para desespero dos que trabalham na saúde, o decreto prevê que, diante de uma conjuntura mais grave, não haverá implicação no retrocesso de uma fase branda para outra, mais rígida, já que a “capacidade hospitalar poderá estar apta a absorver o impacto.”
Dia D
Assim pode-se caracterizar o dia 30 de novembro, quando o Governador de São Paulo, João Doria, poderá (ou não) anunciar a regressão de fase. Seria somente um dia após à realização do segundo turno para eleição de prefeito de São Paulo.
Há que se frisar o seguinte: os candidatos a disputarem o segundo turno causaram e participaram de aglomerações. Isso vale tanto para Bruno Covas quanto para Guilherme Boulos.
Caso João Doria escolha o endurecimento da medida, a fase amarela, na prática, significaria mais isolamento social, com permissão de abertura do comércio.
No entanto, o funcionamento dele seria com horário mais limitado.
Professor do Departamento de Saúde Preventiva da USP, Paulo Menezes reitera que a situação é muito preocupante. E vai mais adiante ao dizer que “a sociedade, especialmente os adultos jovens, entendeu que o verde é sinal verde para poder fazer o que quiser, ir a bares, baladas, festas familiares. E o reflexo foi rápido”.
Seu colega de profissão da Unesp, Wallace Casaca, endossa o coro, pois em sua visão, o aumento do contágio se deveu a três fatores: a rapidez de passagem dentro do Plano São Paulo, a falta de cumprimento por parte do povo nas medidas de contenção ao coronavírus e o período eleitoral.
A nova expansão do coronavírus levanta outra questão, muito importante para quem é trabalhador do ramo da saúde: a exaustão e o atingimento do teto máximo de resistência a tanta carga laboral.
Afinal de contas, assim como os trabalhadores de outras áreas produtivas, os profissionais da saúde anseiam como nunca umas férias e, depois disso, voltarem renovados e com fôlego suficiente para a frente de batalha.