Depois de seguidos apelos por atenção veiculados na imprensa e nas redes sociais, finalmente o grupo de pessoas vindas do Afeganistão que dormia no saguão do aeroporto de Guarulhos, na Grande SP, terá acolhida no Brasil. Eles irão para um novo lugar, onde terão melhores condições de alimentação, higiene e habitação.

Quando souberam da boa notícia, os afegãos se alegraram com uma salva de palmas; tanta felicidade vem do fato de que a maioria dos países do mundo não concede abrigo para as pessoas que querem escapar do regime Talibã.

Ao saberem que o Brasil oferece um visto de caráter humanitário criado para esse país da Ásia e sem outras opções para quem os possa acolher, muitos tentam a sorte ao atravessar a fronteira e se dirigirem para o Paquistão, Irã ou Turquia.

Nessa empreitada perigosa e exaustiva, os poucos trocados de dinheiro são gastos para a fuga, não sobrando nada para custear um local ou uma estadia que conte, pelo menos, com uma cama e um cobertor.

Para se ter uma ideia, o grupo que adotou o terminal 2 de Cumbica não podia tomar banho, porque lá o serviço é cobrado a R$ 60,00. Difícil para alguém que não gira o registro do chuveiro há mais de uma semana.

Condições e improvisação

Durante o período de permanência no aeroporto, os afegãos improvisaram barracas com lençóis e cobertores. Entre os refugiados, estão mulheres grávidas e bebês.

Após conversas entre o Ministério Público e órgãos públicos e de ajuda da sociedade civil, conseguiu-se a disponibilização de 100 vagas num hotel da prefeitura localizado no bairro paulistano da Penha.

Juntamente com esse esforço, o Alto Comissariado da ONU para refugiados (ACNUR) subsidiará 40 vagas de um abrigo na cidade de Poá até o fim de 2022.

A ajuda aos afegãos vinha, até o momento, de voluntários, os quais levavam brinquedos, roupas e cobertas para suportarem o período de frio nas noites e madrugadas passadas no terminal aeroportuário.

A Prefeitura de Guarulhos contribuiu com a distribuição de marmitas e de kits de higiene.

Diretor da Cáritas de São Paulo, o Padre Marcelo Maróstica diz que a capacidade de abrigar as famílias está esgotada. A solução para essa nacionalidade precisa se estender, ser duradoura, pois a expectativa é de que venha mais gente do Afeganistão em busca de ajuda.

Nova terra

Engana-se quem pensa que os afegãos chegados ao Brasil não possuem instrução. A maioria é composta por pessoas de alto nível de escolaridade como jornalistas, advogados, funcionários públicos e ativistas sociais. Ao todo, são 93 indivíduos que dormiam há algumas semanas no chão frio de Cumbica. Dentro desse número, 34 são crianças. Desde o início de 2022, mais de 500 refugiados entraram no Brasil.

Shabana Ahmedi veio com os dois filhos e o marido, um ex-jornalista de uma televisão afegã, para o Brasil. Ela se incomodava com a ideia de dormir sem um teto. Ficou preocupada, mas quando soube que a família iria para um abrigo, a expressão de alívio logo se fez. Agora torce para que, daqui em diante, tudo se encaminhe.

Mais eufórico, Abdul Wahab, um ex-funcionário da alfândega, contou que saiu escondido de seu país até chegar ao Irã. Neste último país islâmico, ele procurou a embaixada brasileira. Ele quer aprender o português e gostaria de ver as crianças frequentando a escola. Também deseja que o Governo dê oportunidades de trabalho.

Aqui e lá

A Prefeitura de São Paulo anunciou uma parceria com o ACNUR e começará a buscar/atender às demandas por casa, emprego e educação.

Outro ponto de esperança reside na cidade de Morungaba, interior de São Paulo: lá 162 cidadãos do Afeganistão foram acolhidos. Cerca de 31 integrantes dos que moravam no aeroporto de Guarulhos foram para essa cidade.

Todos eles estão num espaço administrado pela entidade assistencial “Vila Minha Pátria”, a qual oferece moradia, alimentação e aulas escolares até os imigrantes encontrarem sua independência.

A comunidade fica numa fazenda a seis quilômetros do centro de Morungaba e foi cedida por um casal aos missionários da entidade. A infraestrutura conta com piscina, campo de futebol e chalés.

Em alguns desses chalés, instalaram-se salas de ensino para aulas de português. O progresso não é igual para todos; porém, 30 crianças afegãs já estão matriculadas na rede municipal de ensino de Morungaba.

Com relação aos adultos, o prefeito Marquinho Oliveira afirmou que algumas empresas instaladas na cidade demonstraram interesse em contratar os refugiados.

Um dos primeiros a chegar à Vila Minha Pátria, Nasih Parshan veio com a família para o Brasil em novembro de 2021. Sua esposa, Homa, cursava os últimos anos de Ciências Políticas; quando o Talibã assumiu o poder no Afeganistão, Nasih disse que temia pela vida de Homa, pois os direitos das mulheres seriam retirados. Hoje, após tanta aflição, Nasih confessa que, depois de entrar no Brasil, encontrou a paz.