Quem é usuário do sistema metroviário, já ouviu pelos alto-falantes a frase de suspensão na circulação de trens por causa de objetos caídos na via. Obviamente isso também se aplica a usuários mais descuidados. Em ambos, faz-se o resgate.

Mas, mesmo com esse tipo de procedimento, às vezes a sucessão dos acontecimentos não permite seguir todos os passos indicados no salvamento de objetos e pessoas.

Magda de Souza Paiva não foi a primeira e nem a última a cair na via do metrô. Com 45 anos, está acostumada a usar o serviço, pois trabalha e precisa de um meio de transporte eficiente.

Porém, o caso dela chama a atenção por ser alguém com deficiência visual.

O dia 1º de setembro seria mais um no cotidiano de Magda, se não fosse um desvio no caminho que poderia ter tirado sua vida.

Ela caiu nos trilhos do trem, pouco depois de desembarcar na estação Trianon-Masp, pertencente à Linha Verde do Metrô paulistano.

Frio na barriga

Pouco depois, um trem chegou à estação para desembarque dos passageiros. O fim dessa história foi feliz, pois Magda não foi atingida pela composição e nem teve ferimentos graves. Por precaução, a equipe a levou para o Hospital das Clínicas e saiu dele no dia seguinte, 2 de setembro.

Ela trabalha na região da Avenida Paulista e é assessora da senadora Mara Gabrilli (a qual é a vice na chapa da candidata à Presidência da República, Simone Tebet).

Contou que não encontrando um funcionário para auxiliá-la a sair da estação Trianon-Masp, ela preferiu se deslocar por conta própria.

Só que em vez de se dirigir para a saída e o mezanino da estação final, Magda, sem orientação, foi em direção à via principal de circulação do Metrô. Foi o que aconteceu: ela caiu.

Logo após a queda, Magda começou a escutar vozes vinda da plataforma para que se abaixasse.

Foi o sinal para compreender de que estava na via de circulação dos trens. Disse que ouviu o barulho de uma composição chegando à estação e se abaixou.

Ela descreve que o trem chegou e ficou sobre ela, mas que não a encobriu totalmente. Sua felicidade foi se deitar no vão, o lugar certo, mesmo sendo cega.

Providências

Para salvá-la desse horror, foi preciso desenergizar o lugar e uma equipe de socorro foi até Magda.

O resgate demorou de 20 a 30 minutos, quando logo em seguida, Magda foi conduzida ao Hospital das Clínicas para atendimento ambulatorial e realização de exames.

Em entrevistas, Magda se sente aliviada e espera que o acontecimento sirva de advertência para o Metrô. Ela acha que a quantidade de funcionários designada para tantas tarefas e atribuições não é condizente.

Inclusive, ela já usou o telefone 0800, denunciando a falta de funcionários. Sente-se incomodada porque tem sido comum o tempo de espera para que alguém apareça e ajude os deficientes visuais a caminhar.

A Companhia do Metrô divulgou uma nota, afirmando que o acidente foi motivado por uma falha do funcionário. Posteriormente, ele recebeu uma punição porque não cumpriu o protocolo de atendimento voltado para as pessoas com deficiência.

Com relação ao número de funcionários, o Metrô comunicou que o atual quadro funcional está em consonância com as exigências atuais. Segundo a companhia, antes da pandemia, transportavam-se 3,7 milhões de pessoas pelo sistema; hoje essa demanda sofreu uma redução de mais de 30%.

A empresa disse que, a partir de janeiro de 2023, irá chamar os aprovados no concurso público para trabalharem como agentes de segurança.

Encarada como uma resposta difícil de ser deglutida, o Sindicato dos Metroviários se declarou contra a punição aplicada ao funcionário. E que já de não de hoje que o problema da falta de trabalhadores é identificado e causa questionamento. Muitos da categoria metroviária reclamam desse déficit.

Como vai você?

Magda de Souza Paiva mora no bairro da Mooca. Ao ser perguntada como faz para chegar ao serviço, ela disse que precisa fazer duas baldeações. A primeira delas é na estação Sé. Pega outro metrô até a estação Paraíso. E dessa última estação, desce por fim, na Trianon-Masp.

Sobre como será sua a vida após o acidente, Magda confessa que se assustou, mas não pensa de nenhuma forma em mudar sua rotina ou abandonar suas responsabilidades profissionais.

Ela deseja ser uma pessoa autônoma, de preferência não ser tão dependente. Quer continuar a trabalhar. Mas, deixou claro que mesmo com momentos tão aflitivos, ela considera os serviços do Metrô fantásticos. E que seria muito bom se a empresa melhorasse sua forma de gestão.