Estreou na Netflix nesta sexta-feira (24) a produção espanhola “Oferenda à Tempestade”. O longa-metragem de 2h19 é a terceira parte da chamada “trilogia Báztan”, que é composta por “O Guardião Invisível” (2017) e “O Legado nos Ossos” (2019). Todos os três filmes foram inspirados nos livros homônimos de Dolores Redondo.

Assim como nos capítulos anteriores, o desfecho da saga é protagonizado pela inspetora Amaia Salazar (Marta Etura) e dirigido por Fernando González Molina.

O roteiro é de Luiso Berdejo e da própria autora dos livros. Também não há novidades no elenco da saga, já que retornam Leonardo Sbaraglia, Paco Tous, Álvaro Cervantes, Marta Larralde, Ana Wagener, Elvira Mínguez, Nene e outros.

Filme para iniciados

O filme de Fernando González Molina não é do tipo de continuação que, mesmo que o espectador não tenha visto o(s) capítulo(s) passado(s), ainda assim poderia ser visto sem maiores problemas. Então é altamente recomendado que se vejam os filmes anteriores para assistir “Oferenda à Tempestade”.

O terceiro capítulo da “trilogia Báztan” começa bem pouco tempo dos acontecimentos vistos em “O Legado nos Ossos”.

Logo em sua abertura é mostrada um crime bárbaro e, em seguida, acontece uma boa sequência em que os policiais perseguem um suspeito. Isto serviu para que a inspetora Salazar fizesse uma entrada triunfal. Apesar da boa cena de ação, o filme, assim como os capítulos anteriores, não se propõe a ser um thriller de ação, focando mais nos aspectos psicológicos da trama.

O filme anterior, “O Legado nos Ossos”, sofria de um ritmo arrastado, e a impressão que fica com “Oferenda à Tempestade” é que o diretor não quis cair no mesmo erro e tentou dar mais agilidade à nova trama. Após a já citada cena em que os policiais perseguem um suspeito, a montadora Verónica Callón dá um ritmo alucinante à história.

O primeiro ato da produção saturou o espectador de informações e, se a intenção foi fazer algo dinâmico, só conseguiu deixar a trama confusa.

Mais do mesmo

Enquanto houve uma tentativa de melhorar o ritmo em comparação à produção anterior, o filme de 2020 continuou apostando na identidade visual vista anteriormente na saga. Persiste a insistência de Molina e o fotógrafo Xavi Gimenez em empanturrar a trama com fortes tons de vermelho para retratar a cidade, como se o diretor quisesse pontuar o quão perigosa é aquela localidade. Assim como também é exagerado o forte tom amarelado que está presente o tempo inteiro quando a protagonista está em sua casa.

Também é pouco convincente na trama o flerte com o sobrenatural, e isto é visto também no terceiro capítulo da saga.

Mesmo que novamente a atriz Marta Etura seja o destaque, sua boa atuação não é suficiente para salvar a produção das péssimas escolhas do roteiro.

Feminismo

Pode se entender na saga os aspectos feministas que a autora criou para a personagem desde os capítulos anteriores. Mas ao insistir no tema a trama enfraqueceu de maneira quase caricata para certas figuras masculinas da trama. Talvez quem mais tenha sofrido com isto tenha sido o marido da protagonista, que é mostrado como um homem apático que vive à sombra da mulher e tem que ficar em casa cuidando do filho do casal de cinco meses. O arco da crise no casamento entre eles é talvez o mais lamentável de todos.

O filme ainda faz um aceno para a diversidade de gêneros ao revelar a orientação sexual de um personagem conhecido da saga.

A forma como foi visto isto na trama foi totalmente desnecessária e, para piorar, neste arco foram criadas algumas das soluções fáceis para ajudar na elucidação do caso.

Mesmo com toda a verdade que a atriz coloca na protagonista, o que faz com que o público torça por Amaia, ficou difícil acreditar nas escolhas feitas pela policial em sua vida pessoal. Além da já citada boa entrada da protagonista na história, outro ponto alto de “Oferenda à Tempestade” é o quão convincente é a relação de amizade e lealdade entre a policial e a equipe que ela comanda. O que acaba sendo muito pouco para um filme de mais de duas horas.

Continuação

Como já mencionado, o novo filme da Netflix é o fechamento da “trilogia Báztan”.

Mas, no ano passado, foi publicado um prelúdio intitulado “The North of the Heart” (A Face Norte do Coração, em tradução livre), que narra a juventude de Amaia e seu treinamento no FBI. Até o momento a Netflix não se pronunciou se tem planos de realizar mais um filme com os personagens deste universo.