A Netflix estreou na última sexta-feira (18) a série "Ratched". A produção foi inspirada na personagem Mildred Ratched, do romance "Um Estranho no Ninho" de Ken Kesey.
O livro foi publicado em 1962 e em 1975 a história foi levada para as telas de Cinema pelo diretor Milos Forman.
O grande público conheceu a história de R.P. McMurphy (Jack Nicholson), um detento que para escapar da cadeia se finge de louco e é mandado para uma instituição psiquiátrica. E neste local ele encontra a enfermeira Ratched, que irá dificultar a sua vida.
Oscar
A atriz Louise Fletcher ganhou o Oscar por sua interpretação no longa de 1975.
Seu trabalho acabou trabsformando a vilã da trama em uma personagem icônica da cultura pop.
A Ratched do filme protagonizado por Jack Nicholson era uma mulher metódica, rigorosa, que também apresentava um caráter conservador e um certo sadismo.
Sua vilania era exercida por meio de jogos de poder e para os padrões atuais suas atitudes podem nem impressionar tanto.
O filme "Um estranho no ninho" não revelou nada sobre o passado de Mildred Ratched, então a série da Netflix aproveitou para preencher estes espaços vazios.
A trama se passa quase três décadas antes dos acontecimentos vistos na década de 1970 em "Um estranho no ninho".
Desta maneira, causa estranheza a escalação da ótima Sarah Paulson para interpretar a protagonista, pois a atriz está na mesma faixa etária que Louise Fletcher na época do filme.
Então pode se considerar que a série seja um universo totalmente separado do filme de Milos Forman
Susan
Sendo assim, "Ratched" poderia se chamar Susan, Katheryne, ou qualquer outro nome, pois suas conexões com o longa-metragem são extremamente frágeis.
Um ponto problemático é a diferença de idade entre Sarah Paulson (45) e Finn Wittrock (35).
Na série eles são irmãos e nas cenas de flashback que mostram atores mirins os interpretando eles aparentam ter a mesma idade.
O filme abordava temas como liberdade, o que pode ser considerado loucura e também uma crítica ao tratamento que pessoas com problemas mentais recebem em clínicas especializadas neste público.
Estes temas são abordados na série de forma bem rasteira, focando muito mais em construir uma história trágica para a personagem principal, sendo que a beleza da Ratched do cinema era justamente sua aura de mistério e não havia a necessidade de revelar mais do que foi mostrado no filme.
Ryan Murphy
"Ratched" tem a impressão digital de Ryan Murphy. Encontra-se aqui todas as características que estão sempre presentes nas obras do artista, o uso de cores vibrantes, uma grandiloquência presente em praticamente todo o tempo.
Homossexual assumido, Murphy também usa suas obras para lutar pela causa LGBTQ+, além de dar voz para minorias.
Mesmo que de maneira breve, a série não deixa de comentar o preconceito racial em uma América pós-Segunda Guerra Mundial.
Depois que o público se conformar que não irá encontrar algo parecido com o clima claustrofóbico de "Um estranho no ninho", até pode ser que "Ratched" divirta.
A produção tem um elenco espetacular, além de Paulson, os atores coadjuvantes também brilham na trama.
O arco dramático da protagonista com a personagem Gwendolyn Briggs (Chyntia Nixon) é um dos melhores da série.
Sharon Stone também se destaca na trama. Vincent D'Onofrio faz uma participação especial em que dá vida a um político que assume que deseja atuar mais como um agitador das massas do que como um político tradicional, soa familiar.
Com "Ratched", Ryan Murphy mostra mais uma vez que tem total controle sobre suas escolhas artísticas e sobre as mensagens que quer passar com elas.
O problema é que ele também mostra que está aprisionado dentro de seu próprio estilo e que parece não saber quando é preferível ser mais discreto e menos exuberante.