Uma matéria divulgada pelo portal UOL mostra o caso do motorista de aplicativo Douglas Moreira, que já foi preso duas vezes, após reconhecimento fotográfico falho, sendo absolvido em ambas as acusações.

A forma de reconhecimento através de fotos mostra-se falha no Brasil, principalmente quando os padrões de buscas são de pessoas negras. A falta de distinção dos verdadeiros traços mostram a dificuldade que a sociedade tem de olhar além, e não se basear apenas na "cor".

Primeira prisão

Douglas teve sua vida devastada pelos supostos "enganos" que poderiam facilmente serem intitulados de preconceito.

Aliás, o preconceito no Brasil é algo que aparece diariamente nas notícias, apesar de uma boa parcela da população alegar que o racismo aqui "não existe".

A primeira vez que Douglas foi preso foi no mês de janeiro de 2014. Em entrevista para a reportagem do UOL, Douglas afirmou que na época do ocorrido, ele estava saindo do trabalho após um longo plantão no hospital Pan-Americano, na Tijuca. Exausto, ele tem uma péssima surpresa no trajeto para a sua casa. Douglas foi acusado de furtar um carro na cidade de Nova Iguaçu, no RJ, e, apesar de inocente, acabou preso.

Não havia nenhuma prova, nenhum indício concreto de que ele era o criminoso, apenas uma foto foi necessária para que ele fosse levado pela Polícia, e a razão da sua prisão foi a sua cor.

Douglas, que trabalhava como auxiliar de serviços gerais na instituição de saúde, tinha na época 26 anos e era apenas um jovem que lutava por um futuro melhor. Uma foto retirada de suas redes sociais por policiais iniciou uma trajetória na qual ele não merecia passar. Ele foi reconhecido pelas vítimas através de uma foto do Facebook, e apenas esta informação foi suficiente para que ele passasse de trabalhador, para ladrão.

Douglas relatou ainda para o UOL que ao chegar na delegacia ouviu os agentes falarem que as características do ladrão eram de um homem alto, magro, negro e "careca", exatamente o perfil de Douglas e de uma grande porcentagem de negros do Brasil. Logo após a prisão, ele foi encaminhado ao presídio de Gericinó, na zona leste do Rio de Janeiro, onde ficou preso por longos 30 dias e chegou inclusive a ser agredido por um agente penitenciário.

Algo que chama bastante a atenção no caso de Douglas é que mesmo após ser inocentado da acusação, sua foto não foi retirada do banco de dados, o que resultou em uma nova prisão no ano de 2015, atrapalhando mais uma vez seus sonhos e sua vida.

Segunda prisão

Na segunda vez em que ele foi preso injustamente, ele prestava concurso. Douglas sonhava em se tornar um policial militar no Rio de Janeiro, inclusive ele chegou a ser aprovado. A prisão mais uma vez injusta prejudicou a vida dele diretamente, pois ele não conseguiu concluir as etapas finais e desta forma não pode assumir o tão desejado posto.

Desta vez, Douglas foi acusado de tentativa de homicídio. Neste crime, as vítimas eram policiais e até que tudo fosse esclarecido, ele ficou na prisão por dois longos meses.

Dois meses longe de casa, dois meses tratado como um criminoso, dois meses vivendo uma das piores experiências para alguém inocente, e infelizmente um dos grandes medos dos negros do nosso Brasil.

Após ter sido absolvido em ambas as situações, atualmente Douglas trabalha como motorista de aplicativo. Ele não recebeu nenhum tipo de ajuda ou indenização por parte do estado e com sua vida travada, tenta recuperar a tão sonhada vaga através de uma ação judicial.

Os prejuízos não param por aí, a ficha de Douglas nunca foi limpa, como ex-presidiário ele não consegue um emprego formal, com direitos e carteira assinada. Desta forma, acabou fadado a trabalhar na informalidade.

Realidade

Infelizmente casos assim não são raros.

Nos últimos seis anos pelo menos 53 pessoas foram acusadas injustamente da mesma maneira que Douglas, e destas 53 nenhuma pessoa era branca. Sete a cada dez acusados injustamente são negros e os outros três são pardos. O gênero destas pessoas para que se diferencie casos de homens e mulheres não são divulgados pelo documento da Defensoria Pública do Rio de Janeiro.

A análise realizada em torno dos casos mostram claramente que existem grandes falhas por parte da justiça quando se trata de reconhecimento por fotografias. Existe um caso em que a testemunha tinha dúvidas a respeito das fotos, no entanto, o investigado foi preso da mesma forma.