Desde os tempos de deputado federal do baixo clero, Jair Bolsonaro profere suas tradicionais respostas polêmicas a profissionais da imprensa, com certa tendência, inclusive, a ofender quem costuma divergir de suas opiniões.
Muitos de seus apoiadores acreditaram que quando chegasse à presidência da República, Bolsonaro deixaria de ser o parlamentar boquirroto que se gabava de, como deputado, ter imunidade parlamentar para dizer o que lhe desse vontade, como quando chegou a admitir que seria homofóbico, e que, como deputado federal, tem direito de falar o que quiser.
O tempo passou, Bolsonaro se tornou presidente da República e uma nova esperança invadiu os corações de muitos dos seus seguidores: a esperança de que no mais alto cargo do poder Executivo, Jair Bolsonaro iria entender que a liturgia do cargo pede comedimento e bom senso no uso das palavras.
Decepção
Boa parte dos defensores de Bolsonaro se enganaram. Além de continuar sendo o Bolsonaro de sempre, ele se cercou de pessoas que reforçaram seu discurso.
Para tentar consertar os estragos feitos por um dos filhos, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que fez sérias acusações à China, sem apresentar provas do que estava dizendo, Jair Bolsonaro se pronunciou de forma a atuar como "bombeiro", para tentar garantir um clima amistoso com a superpotência asiática.
De certa maneira, até se entende o líder do Executivo não se sair muito bem na função, pois Bolsonaro está mais acostumado com o papel de incendiário do que o de quem irá combater as chamas.
Verdade seja dita, desta vez o presidente não ofendeu ninguém quando se pronunciou sobre a relação do Brasil com a China. Na realidade, preferiu tender à via diplomática.
No último domingo (29), ele falou sobre a relação do país com a China. O mandatário classificou a relação comercial entre os dois países como normal e a fala de Bolsonaro que chamou mais a atenção foi a de que o país da Ásia "precisa muito mais do Brasil, do que o inverso".
Bolsonaro fez a declaração enquanto esteve presente na Escola Municipal Rosa da Fonseca, na Vila Militar, Zona Oeste do Rio, para votar no segundo turno das eleições no Rio de Janeiro.
É normal que governantes façam afirmações que não relatem exatamente como as coisas são, como forma de acalmar os ânimos e ao mesmo tempo defender seu Governo.
A intrigante declaração de Jair Bolsonaro, porém, pode levar a certos questionamentos, como, por exemplo, pode-se entender que realmente Bolsonaro acredita naquilo que está falando, o que levaria a um cenário preocupante: o Brasil estaria sendo governado por um homem que construiu uma realidade paralela.
Gripezinha
Não é exagero levantar esta possibilidade, pois há poucos dias, Jair Bolsonaro declarou que não existe nenhum vídeo ou áudio que mostre que ele se referiu à Covid-19 como "gripezinha", quando existem pelo menos dois registros em video de que ele disse isto.