A escritora Thalita Rebouças é um sucesso, tanto no Brasil como em outros países. Ela possui mais de vinte anos de carreira e tem no currículo vários livros voltados para o público infanto-juvenil que ganharam as telas de Cinema. exemplo disso são os longas "É Fada" (2016); "Fala Sério, Mãe" (2017); "Tudo por um Popstar” (2018); e "Ela Disse, Ele Disse" (2019), todos roteirizados pela própria escritora.

Filme que virou livro

Agora Thalita, que está acostumada a escrever histórias que são adaptadas para o audiovisual, seguiu um caminho diferente.

Em novembro de 2020 a autora lançou o livro “Pai em Dobro”, que foi pensado primeiramente como um roteiro para um filme antes de ser negociado para se transformar em um livro. O resultado desta experiência, pouco comum no Brasil, estreou na Netflix na última sexta-feira (15).

O longa-metragem marca a estreia da atriz e apresentadora Maisa Silva na plataforma de streaming. O elenco conta ainda com Eduardo Moscovis, Marcelo Médici, Pedro Ottoni, Laila Zaid entre outros. A direção é de Cris D’Amato e o roteiro é de Thalita Rebouças e Renato Fagundes. O roteirista também trabalhou na estreia de outra ex-atriz mirim na Netflix, Larissa Manoela, no filme “Modo Avião” (2020).

A trama

Vicenza (Maisa) é uma jovem que acabou de completar 18 anos, e vive com a mãe (Laiza Zaid) em uma comunidade hippie.

A protagonista cresceu com o desejo de saber quem é seu pai, pois sua mãe nunca revelou esta informação e sempre tentou fazer com que a filha desistisse dessa ideia.

Por acidente, Vicenza descobre uma foto de sua mãe com Paco (Eduardo Moscovis). A foto também mostra um endereço em Santa Tereza, no Rio de Janeiro. Aproveitando a ausência da mãe que viajou para a Índia, a protagonista vai para a cidade maravilhosa ao encontro de seu possível pai, Paco, um pintor que está passando por uma crise criativa e com dificuldades financeiras.

Ao chegar ao bairro do Rio de Janeiro, Vicenza descobre outro homem que teve um breve relacionamento com sua mãe no ano em que ela nasceu, Giovani (Marcelo Médici), um empresário bem de vida. A jovem então se afeiçoa aos dois homens que também ficam felizes com a possibilidade de serem seu pai. Vicenza então vive uma relação paternal com ambos, mas sem que um saiba da existência um do outro.

A partir desta premissa, fica fácil para o público imaginar que a protagonista irá ter momentos agradáveis com ambos os personagens, e que ela viver muitas situações engraçadas para esconder a existência de um para o outro. Em um determinado momento a farsa será descoberta e haverá um momento de crise, mesmo assim ela não conseguirá fazer uma escolha e ganhará dois pais.

Tudo o que foi dito acima será visto na trama, e não há problema nenhum nisso, afinal de contas não se trata de um filme de David Fincher em que há um grande mistério a ser resolvido e o espectador terá que juntar as peças do quebra-cabeça. Trata-se apenas de uma produção despretensiosa voltada principalmente para o público da carismática atriz Maisa Silva.

Mas o problema de “Pai em Dobro” não é a sua previsibilidade, e sim seu roteiro cheio de facilitações que fazem com que a protagonista ache sem grandes dificuldades seus possíveis pais biológicos, entre outras situações pouco plausíveis.

Fica difícil também acreditar em muitos diálogos que são apresentados no filme. Todos os personagens que estão na trama, claramente para servirem como alívios cômicos, simplesmente não conseguem desempenhar esta função por conta de um texto que em nenhum momento conta com um humor bem construído.

O filme também sofre com uma montagem apressada, que compromete a verossimilhança do que é visto em tela, além de não desenvolver os personagens principais. No final das contas, a produção é apenas um filme de férias sem grandes qualidades, mas que por conta de suas belas locações, o clima de carnaval de rua no Rio de Janeiro e pela simpatia, carisma e talento do trio de protagonistas, acaba por agradar.