No dia 21 de março de 2021, Ayrton Senna completaria 61 anos. A morte de um dos maiores ídolos do Brasil causou grande comoção naquele fatídico 1º de maio de 1994. Além da saudade, sempre ficaram aquelas dúvidas. Como teria sido a carreira do piloto caso ele saísse vivo daquela batida na curva Tamburello?
O artista ucraniano Oleg Konin chegou a pintar o desejo de todos amantes da Fórmula 1, onde Senna deixava a Williams depois da colisão.
Fã de Senna, resolvi fazer uma projeção de como poderia ter sido o resto da carreira dele na F1, caso ele não tivesse morrido naquele acidente.
Comparei a possível performance de Ayrton com os pilotos que ocuparam os lugares que provavelmente seriam do brasileiro na categoria e projetei embates com o que viria ser o seu maior rival, o alemão Michael Schumacher.
De acordo com este levantamento hipotético, cheguei à conclusão de que Senna poderia ter terminado a carreira com seis títulos de pilotos, 73 vitórias e 104 poles positions.
O brasileiro teve sua carreira interrompida em maio de 1994, com 161 corridas, três títulos (1988,1990 e 1991), 41 vitórias e 65 poles. Lembrando que na época os vencedores de cada prova ganhavam dez pontos por corrida e não 25 como hoje.
Abaixo, detalho como foi analisado cada ano até a suposta aposentadoria do nosso eterno campeão.
1994: início do confronto direto com Schumacher e o tetra de Senna
Devido ao amplo domínio das Williams nos anos de 1992 e 1993 e visando ter maior equilíbrio, a Federação Internacional de Automobilismo (FIA) proibiu na temporada de 1994 todos os sistemas eletrônicos dos carros, como suspensão ativa, controle de tração, câmbio automático, dentre outros.
Ayrton sempre teve o sonho de dirigir uma Williams, contudo, quando chegou a equipe, com as mudanças no regulamento, o cenário de domínio já não era o mesmo.
O brasileiro teve problemas no desenvolvimento do carro, reclamando até do pouco espaço no cockpit. Sem os recursos eletrônicos, a instabilidade ao guiar o veículo também era um problema.
Mesmo com ressalvas a respeito do carro, o tricampeão conseguiu fazer três poles positions em 1994: no GP do Brasil, quando abandonou a prova após rodar; no GP do Pacífico, deixando a prova no início ao ser tocado na primeira curva; e largou em primeiro no GP de San Marino, quando perdeu a vida na curva Tamburello.
Nossas projeções partem daí. Até a metade do campeonato de 1994, o alemão da Benetton Michael Schumacher dominou amplamente a tabela de classificação, vencendo seis das oito primeiras provas.
O desempenho do alemão na temporada sempre foi alvo de questionamentos, quando muitos do circo da F1 afirmavam que ele utilizava de dispositivos eletrônicos vetados no regulamento, o que não ficou oficialmente comprovado.
Mesmo rodeado de desconfiança, Schumacher perdeu força na segunda metade daquele ano e viu o inglês Damon Hill da Williams crescer na disputa. O carro que era ocupado por Senna contou com melhora no decorrer das etapas.
No GP da Austrália, última corrida do ano, a vantagem de Schumacher para o inglês era de apenas um ponto. O primeiro título do alemão veio em volta a polêmica. Schumacher bateu em Hill depois de sair da pista e retornar jogando sua Benetton pra cima da Williams. Os dois abandonaram a prova e Schumacher levantou seu primeiro mundial de pilotos.
Minha projeção é que Senna seria campeão naquele ano. Sendo melhor piloto que Hill, o brasileiro chegaria a última prova do campeonato com vantagem sobre Schumacher, e não atrás um ponto na classificação, como ocorreu com o britânico.
Das 16 corridas do ano, Schumacher venceu oito e Hill seis, sendo que a Willians ganhou mais uma corrida com Nigel Mansell na última etapa. Considerando esse cenário, atribuímos a Ayrton Senna oito vitórias no ano.
Das 16 etapas, Senna participou de três treinos classificatórios, conseguindo três poles. No transcorrer do ano, a Williams conseguiu largar na frente apenas mais três vezes. Durante a carreira, Senna sempre teve mais poles do que vitórias. Era quase que imbatível nos treinos de classificação. Até Rubens Barrichello, Gerrard Berger e Jean Alesi largaram na frente em 1994. Portanto, num cenário “humilde”, além das três poles obtidas por Senna antes de sua morte, no restante da temporada, vamos adicionar mais cinco vezes em que o brasileiro largaria na frente.
Assim, Senna terminaria 1994 com o tetra, oito vitórias (tomando uma vitória de Schumacher) e oito poles.
1995: esquenta a rivalidade Senna x Schumacher
Em meados da década de 1990, Michael Schumacher não tinha adversários na F1. Em 1995, o alemão venceu aquela temporada com antecedência e ampla vantagem para o segundo colocado, Damon Hill da Williams (102 pontos contra 69).
Dos 17 GPs, Schumacher ganhou nove corridas e o britânico quatro. O companheiro do alemão na Benetton, Johnny Herbert, faturou duas provas, uma prova foi vencida por David Coulthard da Williams e outra por Gerrard Berger da Ferrari.
Obviamente, que com Senna na pista, Schumacher não ganharia aquele mundial tão fácil. O brasileiro já provou que com carro piores conseguia tirar “coelhos da cartola”.
Exemplo do que ocorreu contra as Williams no início da década de 1990. Assim, aquele campeonato seria disputado palmo a palmo.
Todavia, há de se admitir, o alemão também era gênio e daremos o título de 1995 a Schumacher. O que no caso seria o primeiro título do alemão.
No nosso modelo, a Senna iremos atribuir cinco vitórias na temporada, as quatro de Damon Hill e mais uma da equipe Williams.
Ao contrário do que aconteceu nas corridas de 1995, as Williams dominaram os treinos classificatórios com doze poles no total (sete de Hill e cinco de Coutlthard).
Dessa forma, credito onze poles para o brasileiro nesse ano. Imagina o que seria aquela temporada com Ayrton largando na frente e o alemão vindo “babando” atrás.
Seguindo minhas análises, Senna chegaria ao fim do ano vice-campeão, com 5 vitórias e 11 vezes largando na frente.
Ayrton, que já tinha o recorde de poles na categoria até aquele momento, se tornaria o maior vencedor de GPs, ultrapassando o francês Alain Prost, que terminou a carreira em 1993 com 51 vitórias.
1996: passeio de Senna e o pentacampeonato
A temporada começa com uma bomba. O campeão Michael Schumacher decide deixar a Benetton e foi para a Ferrari, equipe que não conquistava um título desde 1979. Essa decisão com certeza iria facilitar bastante o caminho de Senna naquele ano.
A Williams teve em 1996 sua equipe formada por Damon Hill e o canadense Jacques Villeneuve. Dos 16 GPs, a Williams venceu doze, sendo oito vitórias do britânico.
Schumacher ganhou apenas três corridas. Hill foi campeão com facilidade, ficando 19 pontos à frente de Villeneuve e 38 pontos à frente de Schumacher, que não conseguiu fazer frente à equipe britânica.
Nesse cenário amplamente favorável as Williams, projetamos dez vitórias de Senna naquela temporada, se consagrando pentacampeão da categoria.
Em 1996, foram doze poles da Williams, nove de Hill e três de Villeneuve. Com carro em desenvolvimento da Ferrari, Schumacher ainda conseguiu largar quatro vezes na frente. De acordo com meu palpite, Senna largaria doze vezes na primeira posição.
Fechando a temporada, o brasileiro terminaria com o pentacampeonato, dez vitórias e doze vezes largaria na frente.
1997: Senna conquista o hexa
Schumacher, o principal concorrente de Senna, trabalha no desenvolvimento da Ferrari. Apesar da competência do piloto da equipe italiana e melhora do carro no ano, Schumacher será novamente batido pelo brasileiro.
Na temporada de 1997, estavam na Williams o canadense Jacques Villeneuve e o alemão Heinz-Harold Frentzen. Villeneuve se sagrou campeão na última corrida. Mais uma vez com polêmica envolvendo Schumacher, assim como em 1994. Schumacher liderava o campeonato na última etapa com um ponto de vantagem. Durante tentativa de ultrapassagem feita por Villeneuve, o alemão “fechou” a passagem contra a Williams. Desta vez, Schumacher levou a pior e ficou na brita. Villeneuve continuou na prova e terminou em terceiro lugar.
A FIA resolveu punir o alemão retirando os pontos de Schumacher na temporada. Frentzen ficou com o vice-campeonato.
Então, vamos lá, projetar o número de vitórias de Ayrton em 1997. Dos 17 GPs, a Williams venceu oito (sete com Villeneuve), Schumacher teve cinco vitórias. Vamos atribuir ao brasileiro nove vitórias e o hexacampeonato.
A Williams cravou 11 poles (dez com Villeneuve) e 4 de Schumacher. Vou creditar 11 poles para Ayrton.
Então, Senna finaliza a temporada de 1997 campeão, conquistando nove vitórias e onze poles.
Com o hexacampeonato, o brasileiro iria superar o argentino Juan Manoel Fangio, que até então, era o maior detentor de títulos na F1, com cinco campeonatos de pilotos.
Senna se aposentaria aos 37 anos
Depois de vencer as duas últimas temporadas com certa facilidade e com a idade mais avançada, imagino que Senna decidisse se aposentar depois de quebrar todos os recordes da F1. O último deles, o número de títulos de Fangio. Em algumas ocasiões, o brasileiro chegou a dizer que tinha o sonho de guiar uma Ferrari, todavia, com Schumacher na Scuderia, isso não poderia ser concretizado.
Abaixo, descrevo uma hipotética entrevista de despedida de Ayrton Senna.
“Gostaria de correr meu último ano pela Ferrari, mas não foi possível. Sou um piloto realizado na Fórmula 1 e concretizei todos os meus sonhos. É um esporte perigoso, passei por alguns acidentes, o mais grave aquele de Ímola. Tenho 37 anos, chegou a hora de parar!”, anunciou Senna em entrevista a Galvão Bueno, após a última prova da temporada de 1997, em Jerez.
O brasileiro falou sobre o futuro.
“Vou cuidar das minhas empresas [marcas Senninha e Senna] e também me dedicar mais ao Instituto Ayrton Senna junto da minha irmã [Viviane Senna]”.
Ayrton não descartou uma volta a F1.
“Velocidade tá no meu sangue. Posso retornar algum dia como consultor e até dono de equipe, [todavia] não tem nada certo. Quem sabe comentarista [da F1] nos próximos anos”, brincou Senna.
Mensagem aos brasileiros que torceram por você nesses anos de F1.
“Quero agradecer a cada brasileiro que acordou cedo e torceu pelo Ayrton Senna durante esses anos. Muito obrigado! Levarei vocês pra todo o sempre no meu coração”, despediu-se o emocionado Ayrton Senna.