O tempo passa, o tempo voa, mas certos fatos deixados para trás ecoam novamente, já que a História tem um papel importante de descrever a trajetória da humanidade e seus feitos. Sejam eles bons, neutros ou ruins.

De certa maneira é o que aconteceu como Mimi Reinhardt, quando soube usar de astúcia e solidariedade durante um dos períodos mais negros do século XX: a Segunda Guerra Mundial e o Holocausto judeu.

Mas quem é essa pessoa que não figura entre os grandes e importantes nomes da História? E por que só agora se fala de Mimi?

Seu nome voltou a ser pronunciado porque ela morreu de causas naturais aos 107 anos em Israel.

A data de seu falecimento foi na última sexta-feira (8), e a notícia foi dada pela família, segundo o jornal “Times of Israel”.

Localizando no tempo

Mimi trabalhou para o industrial Oskar Schindler em pleno auge da Segunda Guerra Mundial. Para quem é fã ou assistiu ao filme “A Lista de Schindler”, do cineasta americano Steven Spielberg, os acontecimentos formaram uma obra de ficção baseada em um contexto sombrio e, ao mesmo tempo, altruísta.

Austríaca de nascimento, mas com descendência judaica, Mimi Reinhardt foi a secretária que elaborou a lista que ajudou a salvar centenas de vidas judias, povo perseguido pelo regime nazista de Adolf Hitler.

Pouco antes de eclodir a guerra, ela viveu na Polônia.

Conheceu o empresário Oskar Schindler que, por sua vez, a contratou para trabalhar com ele. Foi no escritório da indústria de Schindler que ela datilografou os nomes de cerca de 1.300 cidadãos judeus, ajudando-os a se livrarem da morte certa e da deportação para os campos de concentração.

A montagem do esquema

Para a obtenção do sucesso no salvamento dos judeus, Oskar Schindler se filiou ao Partido Nazista em 1939.

Nas reuniões, argumentou que a mão de obra dos judeus seria um importante instrumento para fortalecer a indústria e o poderio alemão. Com bom trânsito dentro da “ala inimiga”, o empresário começou (com muito esforço) a recrutar funcionários dentro dos campos de concentração para trabalhar em sua fábrica.

Ficou preso por três anos após ter sido acusado de acobertar e oferecer abrigo e ajuda aos judeus.

Porém, por falta de provas, foi solto.

Em 1944, mudou a sede de sua indústria e foi aí que Mimi elaborou a lista. Ela trabalhou até 1945, quando foi morar em Nova York, Estados Unidos. Já idosa, foi morar em Israel no ano de 2007, para se juntar ao seu único filho, Sacha, e aos netos.

Realidade e curiosidades

Mimi era o codinome de Carmem Weitmann e o seu patrão, Oskar Schindler, nasceu em 1908 na atual República Tcheca. Ele morreu em 1974 e foi lembrado pelo museu do Holocausto Yad Vashem de Israel como membro dos “Justos entre as Nações”. Oito anos depois, lançou-se um livro denominado “A Arca de Schindler”, narrando todos os acontecimentos. O aclamado filme de Spielberg veio em 1993 e ganhou sete Oscars.

No filme, Mimi Reinhardt é substituída por um sócio do industrial e reconheceu que demorou muito tempo para assistir integralmente à versão cinematográfica. “Fui convidada para a estreia em Nova York, mas tive que sair antes da exibição; foi muito difícil para mim”.

Seus últimos anos de vida foram numa casa de repouso situada em uma cidade próxima a Tel Aviv. Mimi participava de atividades do lar de idosos, jogava cartas, navegava na Internet e acompanhava o vaivém do mercado de ações.

Em nota, a neta de Carmem (ou Mimi) disse que sua “querida e única avó morreu aos 107 anos. Que ela descanse em paz”. Paz que ela construiu para centenas de vidas e serviu de exemplo para o mundo.