Sérgio Camargo, que até pouco tempo era o chefe da Fundação Cultural Palmares, voltou a fazer ataques ao filme “Medida Provisória”, quando confundiu a trama da produção com o governo do presidente Jair Bolsonaro (PL), do qual ele era parte integrante.

Boicote

Camargo, em uma série de tuítes publicados na última terça-feira (12), declarou que o diretor do longa, o ator baiano Lázaro Ramos, acusa o atual ocupante do Palácio da Alvorada de deportar os cidadãos negros para a África, e, por esta razão, pede para que as pessoas boicotem o filme.

Mais absurdos

Como se isso não fosse suficiente, Camargo ainda se saiu com uma declaração ainda mais absurda.

Em seu ataque ele sugeriu que pessoas negras alinhadas à esquerda fossem realmente enviadas para países da África, sem perceber que seu ataque serve para reforçar o argumento do filme, que mostra uma situação parecida com a realidade.

Estreia

A produção tem sua estreia marcada para a próxima quinta-feira (14).“Medida Provisória” é a primeira experiência do ator Lázaro Ramos como diretor. O filme conta uma trama distópica em que o governo resolve enviar os cidadãos negros para países africanos, em uma atitude racista disfarçada de reparação histórica.

Jair Bolsonaro

O nome do presidente Jair Bolsonaro não é dito nenhuma vez na produção que começou a ser feita em 2017, dois anos antes do começo do atual governo.

A história se trata, na verdade, de uma adaptação da peça “Namíbia, Não!”, de autoria do também ator baiano Aldri Anunciação –a peça já contabiliza mais de 100 mil espectadores em 234 apresentações em 10 estados do Brasil, desde o ano de 2011.

A trama também já foi publicada em livro no ano de 2012 e ganhou o Prêmio Jabuti de Literatura na categoria Ficção para Jovens, o que fez com que Aldri Anunciação se tornasse o primeiro negro a ganhar esta premiação por uma obra de ficção.

Sabe nada

As postagens de Sérgio Camargo mostram a ignorância do ex-presidente da Fundação Palmares sobre sua própria cultura, pois ele ignora a origem do longa-metragem e a importância da peça de Aldri Anunciação e todo o caminho percorrido até que a trama se transformasse no filme de Lázaro Ramos.

Esta não foi a primeira vez que Camargo acusou o filme de Lázaro de fazer denúncia de racismo no governo Bolsonaro.

A primeira vez que Sérgio Camargo fez tal acusação foi há pouco mais de um ano, em março do ano passado. Na ocasião, sem ter visto o filme, o ex-chefe da Fundação Palmares espalhou fake news sobre a trama.

Resposta

A assessoria de “Medida Provisória” declarou que quaisquer ataques ao filme somente representam o dirigismo cultural, que atualmente quer determinar quais produções podem ser feitas no Brasil. O filme já foi exibido, e ganhou prêmios, em festivais internacionais desde o ano de 2020. Ele teve 92% de aprovação no site estadunidense Rotten Tomatoes. Agora o filme chega ao Brasil depois de ter enfrentado dificuldades com a Agência Nacional do Cinema (Ancine), algo parecido com o que aconteceu com a produção “Marighella”, de Wagner Moura, que também tinha um protagonista negro. Lázaro Ramos acredita que foram feitas manobras burocráticas para dificultar, ou mesmo censurar a exibição de seu filme para os brasileiros.