Papo de ambientalista dizendo que o homem é o grande responsável pela contaminação de mares e oceanos só pertence à preservação do planeta. Essa retórica, às vezes considerada chata por alguns, parece adquirir um alcance bem mais amplo e que circunda o planeta em que vivemos.

Encarado como ponto de atenção, o lixo gerado pela humanidade tem causado danos à fauna marinha e, agora, outro tipo de lixo vem afetando não só o mar como o ar e o espaço sideral.

Segundo Marlon Sorge, diretor-executivo do Centro de Estudos de Detritos Orbitais e de Reentrada da Aerospace Corporation, cerca de uma tonelada de lixo espacial volta para a Terra.

Melhor dizendo: os restos de missões e de equipamentos, como satélites, adentram a atmosfera e podem cair em qualquer ponto do planeta, não importando se o local é líquido ou sólido.

Mas, esse total não se refere a um ano; a tonelada de detritos vale para o intervalo de uma semana. Num mês, equivaleria a quatro toneladas de equipamentos usados e agora imprestáveis.

Distribuindo

Marlon fala que essa estimativa é variável, já que existem períodos de grande atividade espacial com pausas na realização dos programas espaciais.

Porém, é bom deixar o medo de lado, pois, mesmo com a reentrada do material na atmosfera, o provável é que ele se desintegre antes de chegar ao solo. Cerca de 60% destes resíduos espaciais desaparecem em pleno ar.

Aqueles que não são destruídos durante a trajetória, caem, em sua maioria, nas regiões oceânicas e distantes de áreas povoadas.

Mais e mais

A geração de lixo espacial vem aumentando a cada ano: só em 2021, foram 1,9 mil artefatos e correlatos, de acordo com dados das Nações Unidas.

Os satélites são os componentes mais comuns, embora estejam diminuindo de tamanho, conforme o avanço da Tecnologia.

Ainda assim, é preciso ficar atento porque, em julho de 2022, o propulsor de um foguete chinês adentrou na Terra e caiu perto das Filipinas.

Qual seria o perigo de um pedestre ou pessoa ser atingido? Para a próxima década, a probabilidade é calculada em 10%, percentual divulgado num estudo feito pela Universidade da Colúmbia Britânica, no Canadá.

Os cientistas têm monitorado a reentrada do lixo na atmosfera terrestre. Só nos últimos 30 anos, cerca de 1,5 mil detritos de foguetes foram observados no céu. Desse total, 70% foram reentradas sem controle.

Os próprios cientistas reconhecem que não sabem como esse dejeto vai retornar ou qual rota vai adotar em sua descida. Mesmo com auxílio de cálculos, eles admitem que as variações atmosféricas preponderam nesse instante.

Lá também?

A extensão do problema do lixo espacial atinge o planeta mais cobiçado para estudos e exploração dos terráqueos. Marte tem sido vítima da parafernália descartável há cerca de 50 anos.

Mesmo nunca o homem ter pisado ou sequer ter enviado alguma tripulação feita de ‘carne e osso’, o planeta vermelho sofre as consequências das missões.

O total de detritos é estimado em 7 toneladas, segundo um artigo publicado no portal “The Conservation”. Chegou-se a esse número por meio de cálculos que consideram a massa dos equipamentos lançados na época com o peso dos equipamentos utilizados atualmente.

A Organização das Nações Unidas disse que 18 objetos já foram até Marte; a primeira delas em 1971, quando a União Soviética lançou a sonda Marte 2. Entretanto, ela fracassou pouco antes do pouso. Daí, já se gerou o primeiro lixo no planeta vermelho.

E a coisa não mudou muito: até o ‘Perseverance’, veículo com finalidade científica, já registrou seus próprios restos no chão de Marte. Em pleno século XXI.

Cagri Kilic é um estudante de pós-doutorado na Universidade da Virgínia Ocidental (EUA) e, na sua pesquisa, classificou em três tipos o lixo deixado na superfície marciana: os equipamentos descartados, os dispositivos inativos e naves que colidiram com o solo do planeta.

Este último item é que, segundo Kilic, gera a maior quantidade de lixo.

No caso das sondas, elas se desfazem, por exemplo, do paraquedas que serve de amortecimento na hora da aterrissagem. Com relação aos dispositivos, eles ficam inativos após um problema de falta de energia ou mau funcionamento, como foi o caso da sonda ‘Mars Pathfinder’, em 1997.

A consequência

Por enquanto, o impacto negativo de lixo espacial em Marte atinge somente o risco de integridade de amostras que sirvam de estudos para os cientistas. Algum material colhido no solo de Marte pode conter resíduos das missões anteriores. Esse risco já pode ser percebido a partir do ‘Perseverance’ e, por isso, há uma equipe da Nasa dedicada em identificar todo tipo de sucata deixada por lá.

Kilic finaliza com um otimismo precavido: “Eu acredito que há baixo risco de contaminação e obstrução dos rovers (veículos de exploração espacial). Mas, ainda assim, há um risco.”

O importante é que o risco de tornar Marte um planeta poluído seja mínimo ou nulo, ainda que não possua animais, habitantes ou recursos naturais como nós, os terráqueos, conhecemos.