O Ministério Público Federal (MPF) enviou, no dia 7 de agosto, um ofício ao Ibama alertando sobre o plano, por parte de fazendeiros, de dar início a incêndios simultâneos na região em torno da rodovia BR-163, em Altamira e Novo Progresso, no Pará.

O Ibama, que é subordinado ao Ministério do Meio Ambiente, retornou ao MPF informando que expediu ofícios solicitando o apoio da Força Nacional de Segurança – cuja autorização para agir é dada pelo ministro da Justiça –, além de ter comunicado à Coordenação de Operações de Fiscalização e ao Núcleo de Inteligência da Superintendência do Pará sobre o que estava para ocorrer no dia 10 de agosto.

Segundo documentos divulgados pelo Globo Rural, a resposta do Ibama, datada do dia 12 de agosto, explicava ao MPF que, em função dos ataques recorrentes ao órgão, bem como à falta de apoio da Polícia Militar do Pará, as ações de fiscalização estavam prejudicadas, alertando para o risco de colocar funcionários do Ibama em campo sem a devida proteção policial.

De acordo com o MPF do Pará, os fiscais já estavam enfrentando ameaças e ataques por grileiros e madeireiros na região.

O Ibama não obteve resposta do ministro Sergio Moro quando à solicitação da Força Nacional de Segurança, conforme indicou em documento o gerente executivo substituto, Roberto Victor Lacava e Silva.

"Dia do fogo" foi combinado por WhatsApp

Uma reportagem publicada neste domingo, 25, pelo Globo Rural, denunciou que as ações do "Dia do fogo" foram combinadas por meio de um grupo no WhatsApp. Mais de 70 pessoas, dentre as quais estão produtores rurais, grileiros, sindicalistas e comerciantes, combinaram de incendiar as margens da BR-163 a fim de chamar a atenção do presidente Jair Bolsonaro.

A ideia era de mostrar apoio em relação à defesa do presidente de "afrouxar" a fiscalização ambiental e de, possivelmente, anular multas por infrações ao meio ambiente aplicadas pelo Ibama.

A rodovia acometida pelas queimadas liga o sul do Pará aos portos do Rio Tapajós e ao estado do Mato Grosso. Delegacias de cidades da região já receberam denúncias de fazendeiros prejudicados pelo fogo, que perderam cercas, pastos, lavouras e até mesmo animais.

Ainda no domingo à tarde, o ministro Sergio Moro publicou, em sua conta do Twitter, que foi contatado por Jair Bolsonaro para que a Polícia Federal investigue as denúncias feitas pelo Globo Rural.

Agropecuaristas passaram a culpar ONGs

Após a declaração de Jair Bolsonaro, para a imprensa, de que ONGs estariam por trás dos incêndios, os produtores do Norte do país passaram a culpar as organizações não-governamentais pelo ocorrido. De acordo com o Globo Rural, que esteve na região para registrar as queimadas, estão sendo contadas várias histórias na tentativa de responsabilizar instituições como o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), ainda que não existam provas.

O Ministério Público em Novo Progresso solicitou apuração dos fatos e possíveis envolvidos foram ouvidos pela polícia local, mas até o momento ninguém foi preso.