No dia 17 de agosto, funcionários e carteiros da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) iniciaram uma paralisação que, a princípio, não chegaria a durar tanto tempo. Ontem completou-se um mês da greve sem a confirmação de um acordo entre as partes: alta direção e categoria funcional.

Até o momento, ocorreu muita queda de braço sem se chegar a um consenso e, do lado do consumidor, chovem reclamações, atrasos nas entregas das encomendas e filas nas agências para a retirada de objetos e afins.

Segundo informações do Senacon (Secretaria Nacional do Consumidor), órgão ligado ao Ministério da Justiça, entre os meses de janeiro e agosto de 2020, houve um salto de 64% em comparação com o mesmo período do ano passado.

Levantamento efetuado por mês demonstra que maio é o pior para a empresa do ramo de comunicação. Tem uma certa razoabilidade, já que neste mês aconteceu um reaquecimento do consumo, o qual foi afetado anteriormente pela pandemia de coronavírus.

Diversos canais

Com pouca paciência e sabedor do andamento da greve, o público vai às agências postais no intuito de retirar suas respectivas mercadorias. Aliás, a orientação dos próprios Correios é que se compareça a um local físico depois de rastrear/consultar a situação da encomenda no portal da empresa com o ‘status’ de “Aguardando retirada”.

A ECT oferece vários contatos e satisfação das dúvidas do consumidor por meios como o portal dos Correios na web, além dos telefones 3003-0100 e 0800-725-0100.

Só no estado de Alagoas, estima-se que três milhões de objetos e encomendas estão guarados nos depósitos. Internamente e em âmbito nacional, a ECT vem trabalhando para aliviar os efeitos da greve para os clientes. Apesar do feriado prolongado da Independência, muitos funcionários das áreas administrativa e operacional trabalharam, dando prosseguimento aos trâmites e entrega de mercadorias e objetos postais.

Conciliação difícil

A última tentativa de conversações entre os Correios e os sindicatos foi no dia 11 de setembro passado e não houve êxito ou avanço nas negociações. Por isso, o Tribunal Superior do Trabalho (TST) marcou para a segunda-feira, dia 21/09, o julgamento do dissídio da greve.

A Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios e Telégrafos e Similares (Fentect) afirma que a paralisação é causada pela discordância da alta cúpula na manutenção de certos direitos previstos no acordo coletivo da categoria profissional.

Conforme a entidade dos trabalhadores, a reivindicação se concentra em dados como a renda média dos empregados, a qual caiu quase 40% em agosto de 2020. Ademais, cerca de 70 cláusulas do acordo coletivo foram eliminadas ou sofreram algum tipo de redução. Benefícios como o fim de 30% a título de adicional de risco e a diminuição da licença maternidade de 180 dias para 120 dias estão sendo atingidos.

Mesmo com um desempenho positivo em 2019, apresentando lucro de R$ 102,1 milhões, o resultado é menor em relação a 2018, este 36% maior. No entanto, a realidade tem sido mais animadora para a ECT, visto que é o terceiro resultado positivo consecutivo, depois de quatro anos no “vermelho”. Segundo o presidente do sindicato da filial de Alagoas, Alisson Guerreiro, o lucro dos Correios no primeiro semestre de 2020 girou em torno de R$ 614 milhões, o que, para ele, não condiz com as dificuldades alardeadas pelos diretores.

Luta acirrada

Um dos pontos mais controversos nas negociações trata da possível privatização da estatal, listada em 2019, pelo Governo Federal, como importante. A alegação dos dirigentes governamentais está no saneamento das contas dos Correios e o atual Ministro das Comunicações, Fábio Faria, já travou conversas com empresas do setor privado. Algumas delas, como o Magazine Luíza, DHL e FedEX, manifestaram interesse na aquisição da companhia.

Porém, as manobras previstas para isso não são tão fáceis de se executar: é necessário o aval do Congresso Nacional para a liberação da venda dos Correios.

A Secretária do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), Martha Seillier, disse que encaminhará nas próximas semanas um projeto ao Legislativo, solicitando a quebra do monopólio da área de serviços postais.