Enfim, mais um ano que passa e o feriado dedicado a Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, marca o grande fluxo de pessoas –seja nas quatro rodas ou a pé mesmo– que a rodovia Presidente Dutra está habituada a receber no início de outubro.

De acordo com as últimas informações, os peregrinos “congestionam” o acostamento da via que liga cidades de São Paulo ao município de Aparecida. Lá se situa o Santuário Nacional dedicado à santa.

Com essa demanda alta de pessoas, a Polícia Rodoviária Federal montou um esquema especial referente ao tráfego normalmente intenso na Dutra, mas que aumenta especialmente nesse período de celebração.

Quantidade

O monitoramento e apoio a romeiros e veículos se deve aos números: até as primeiras horas desta quinta-feira (12), cerca de 28 mil romeiros utilizaram a Via Dutra para chegar ao Santuário Nacional.

De acordo com a Polícia Rodoviária, quando estes acidentes ocorrem é porque tanto os condutores quanto os peregrinos não seguem as recomendações de circulação e os conselhos dos policiais.

O cuidado tem de ser redobrado, pois, ainda que o fluxo de carros e similares não se destinem a Aparecida, a Dutra é um importante meio de acesso ao litoral norte de São Paulo ou ao Vale do Paraíba. Ou seja, boa parte do tráfego rodoviário vai aproveitar o feriado prolongado na praia ou em sítios.

Apesar da intenção e do esforço pela fé ou pelo cumprimento de uma promessa, há que se guiar pelas regras: durante a semana, um caminhante de 67 anos morreu atropelado próximo à cidade de Guararema.

A informação é de que ele não andava pelo acostamento da via quando foi atingido.

A Secretaria Estadual de Turismo de São Paulo acredita que Aparecida deva receber cerca de 250 mil pessoas, incluindo aquelas que só vão para lá apenas para visitar, fazer turismo ou testemunhar a fé católica.

Ir e chegar bem

A lista de recomendações fornecidas pela Polícia Rodoviária é um pouco extensa; no entanto, vale a pena segui-las para que não haja imprevistos ou fatos lamentáveis durante o trajeto.

Nunca usar a faixa de rolamento da rodovia é uma das principais. O acostamento e, melhor, a faixa de grama/terra perto dele são as áreas mais seguras para os peregrinos. Outra dica muito importante é caminhar no sentido contrário ao do fluxo de trânsito, permitindo uma visualização mais clara por parte do motorista em relação ao romeiro.

Jamais continuar a caminhada durante o período noturno e usar roupas e vestimentas de cor clara. De preferência, trajar um colete refletivo. Andar em turmas formando uma fila indiana, usar protetor solar e se hidratar também ajudam muito durante a caminhada.

Se se propuser a fazer a peregrinação, busque fazer um planejamento prévio de pontos de parada e não se distraia ao atravessar vias e ruas. Evite o uso do celular também.

Por outro lado, outras dicas são passadas aos motoristas, os quais precisam fazer sua parte: não ingerir álcool, respeitar a sinalização viária, não usar o celular durante o dirigir e prestar atenção aos pedestres que circulam na rodovia.

Opção e apoio

Há devotos que preferem executar a caminhada desde sua cidade de origem.

Outros escolhem o apoio de carros para continuar e, posteriormente, caminham parte do trajeto pelo acostamento da Dutra. São uns 50 km a pé.

Em todo caso, é necessário lembrar que se trata de uma atividade física intensa e extensa. Em entrevista ao jornal Repórter Diário, o médico Raffael Marum Bachir alerta que é “uma atividade biomecânica e ósseo muscular expressiva, que seria mais para um atleta amador”. A maioria dos caminhantes não possui esse condicionamento e, por isso, o médico aconselha que eles percam peso, façam musculação e treinem marcha antes de encarar essa cansativa etapa.

Ademais, é ótimo que se escolha um calçado confortável e de absorção de impacto. Raffael salienta que a peregrinação não é uma competição esportiva ou a conquista de um troféu.

Tendo esse caráter mais despojado, ele acha que fazer pausas para repouso é muito bem-vindo e o corpo agradece.

Ele reforça o consumo constante de água e que a mochila não seja carregada demais. “É comum o fiel ignorar seus limites, para eles chegar é o que importa, mas a qualquer sinal de dor se deve parar, pois o problema pode se agravar”, diz o médico.

Mesmo com o alcance do objetivo, é preciso ficar atento: o desgaste sentido durante toda a caminhada continua registrado no físico. Massagens, compressas de gelo e remédios auxiliam nessa pós-caminhada. Geralmente, depois de dois dias os sintomas advindos do esforço somem.

Relato de um romeiro

Quando chegam a Aparecida, os fiéis contam que a exaustão física se torna pequena diante do bem-estar que sentem posteriormente.

O dentista Daniel Fernandes Sales é um romeiro assíduo desde 2010. Inicialmente, ele não tinha um propósito ou uma promessa a ser cumprida. Começou sozinho e, na sua primeira caminhada, teve dificuldades. Foi amparado por carro de apoio ao romeiro. Todos os anos, ele caminha de São Bernardo do Campo até Aparecida, mas aprendeu a lição de que precisa do suporte do grupo Família Caminhada. Ele mesmo acha que há muitas dificuldades a serem vencidas durante a peregrinação a Aparecida.

Daniel se declara muito devoto de Nossa Senhora e seu sentimento interior é de que se pode vencer tudo. “Quando eu chego vou agradecer pelas minhas mãos, já que são meu instrumento de trabalho e peço proteção(...) Nesses treze anos vi muitas pessoas com doenças em estágio terminal se curarem”, disse ele em entrevista ao jornal Repórter Diário.