As rodas de conversa podem ter assuntos pouco digeríveis ultimamente: alta de preços nas carnes em geral, no gás necessário para cozinhar, no tanque de combustível. Melhor deixar de lado. O que não pode faltar dentro de casa ou nos bate-papos de botecos e na primeira refeição matinal é aquela conhecida bebida preta servida na xícara: o café. Seja puro, misturado com leite, forte ou com boas doses de açúcar.
Normalmente, a ligação simbólica e afetiva do café se traduz em simpatia, receptividade, alegria e congraçamento. Não só aqui, mas em outras culturas, o café representa o convite ou a introdução à sociabilidade.
O dia 1º de outubro foi escolhido como o Dia Internacional do Café, e nada mais propício de que se faça um balanço da importância e da situação do nosso “pretinho” favorito nos mercados, nos plantios e nos benefícios para a saúde.
No topo
O Brasil é um país que possui muita força na produção agropecuária e, sem dúvida nenhuma, o café consta na lista dos produtos mais vendidos e exportados. Atualmente, ocupamos o primeiro lugar tanto na produção como na exportação e estamos em segundo lugar quando se olha o mercado consumidor.
Ademais, o café nacional reúne o maior número de Indicações Geográficas (IG), com treze registros. Esse índice é importante porque é por meio dos IGs que se levantam informações únicas de um determinado produto em relação às características do território, cultura envolvida e das pessoas que trabalham no cultivo e processamento do alimento.
Com o intuito de ilustrar melhor a relevância do IG, é preciso citar um exemplo que vem do estado de Rondônia. Lá se cultiva uma variedade híbrida desenvolvida por uma comunidade composta por sete etnias indígenas, agricultores locais e quilombolas.
São 17 mil pequenos produtores que respondem por 90% de todo o café plantado na Amazônia.
O clima e solo amazônicos favorecem a degustação de uma bebida destacada pela doçura e pela presença encorpada.
Com a “mãozinha” da natureza, o produto final tem o reconhecimento do IG. Juan Travain, produtor e presidente da Associação dos Cafeicultores da Região das Matas de Rondônia, diz que “o trabalho da Indicação Geográfica contribui para que os produtores aperfeiçoem seus métodos de produção não só ligados à produtividade, mas ao cuidado, ao respeito à planta e ao amor ao fruto para propiciar a qualidade e a doçura do café na xícara.”
Um pouco mais do que isso
Travain vai mais adiante e opina que não basta pensar no cultivo e no extrativismo da planta.
Justamente por estar localizado num bioma natural, é necessário preservar e utilizar a terra de maneira sustentável. O que significar não devastar o bioma e, simultaneamente, gerar renda aos agricultores. Transpondo para os números, percebeu-se aumento da produção sem ocorrer incremento na área total cultivada. Em 2001, eram 240 mil hectares. Hoje, com uma área de 50 a 60 mil hectares, houve um rendimento total de 2,5 milhões de sacas de café.
A legislação vigente prevê e exige que todos aqueles que produzem na Amazônia dediquem, no mínimo, 80% de sua propriedade para a preservação da vegetação original. O intuito é somar os conceitos de sustentabilidade e de responsabilidade individual pela conservação da floresta.
Enquanto isso, na outra ponta, o Conselho de Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) trabalha para a expansão e divulgação dessa commodity em outros mercados. Os alvos preferidos têm sido os mercados da China, Arábia Saudita, Austrália, Estados Unidos e Itália.
Marcos Matos, diretor da entidade, destaca a promoção de ações estruturadas em 16 países de vários continentes. Ele elogia o empenho e a união das embaixadas brasileiras e arremata: “O Brasil é o líder absoluto — desde que o mercado se desregulamentou, avançou na produção — chegamos a 63 milhões de sacas de café em 2020, contra 13 milhões da Colômbia [nosso principal concorrente]”.
Benefícios para a saúde
Em recente publicação, a Sociedade Europeia de Cardiologia rechaça os possíveis malefícios advindos do consumo da bebida.
Para ela, sorver de uma a três xícaras diariamente pode proteger o coração. Constatou-se uma diminuição à propensão de enfartes e acidentes vasculares cerebrais.
De quebra, a mesma Sociedade defende que beber um café antes de fazer exercícios físicos ajuda na resistência corporal e na queima de gordura.
Se é bom para o coração, é bom para o fígado. Pelo menos, é o que a revista BMC Public Health advoga, pois se observou que o consumo de café diminuiu o risco de se desenvolver doenças hepáticas.
Apesar de estarmos acostumados a ouvir que o café traz ansiedade e palpitações cardíacas, o estudo conduzido pela Jama Internal Medicine mostra o contrário e assegura que o “pretinho” reduz em até 3% o risco de palpitações.
Na próxima vez que receber um convite de “que tal um cafezinho?” é bom pensar duas vezes, caso você esteja propenso a recusar. Não faltam mais motivos para se deixar seduzir por um espresso.