Mais uma vez a hidroxicloroquina, que se tornou o remédio da moda no combate ao coronavírus, está nas manchetes. Um estudo publicado pelo New England Journal of Medicine aponta que o uso do remédio não é eficaz no tratamento de pacientes que tem o coronavírus.

O estudo publicado, o maior já feito estudando os efeitos da droga, citada por Donald Trump e Jair Bolsonaro em seus discursos, foi feito com mais de 1.300 pessoas pela Universidade de Colúmbia, em Nova York (EUA). As pessoas que passaram pelo estudo também são da região.

Detalhes do estudo sobre a hidroxicloroquina

O estudo foi feito por cientistas da universidade e avaliou o uso da hidroxicloroquina em pacientes com sintomas da doença e admitidos em hospitais. 60% do grupo que fez parte da pesquisa foi medicado com o remédio durante cinco dias, com todo o grupo sendo acompanhado por um período de 18 dias.

Os resultados do estudo relataram que o uso do remédio não reduziu o uso de ventiladores nem reduziu o risco de morte. Na pesquisa, 32,3% dos pacientes que foram tratados acabaram por precisar de ventilação artificial ou falecendo. A porcentagem de mortes ou de uso de ventiladores pelos que não usaram foi de 14,9%.

A pesquisa, no entanto, tem limitações em seu procedimento, com o chamado 'intervalo de confiança' (em que existe uma estimativa de intervalo que usando um parâmetro populacional desconhecido) considerado amplo ou a falta de randomização na escolha dos pacientes a usar a droga ou não.

E segundo os participantes, não deve guiar o uso ou não da hidroxicloroquina em pacientes com o coronavírus.

Mas na visão dos envolvidos, o estudo mostra resultados que vão na linha de outros estudos que apontam que a hidroxicloroquina não tem eficácia total no combate ao coronavírus para todos os tipos de pacientes.

Pesquisador fala sobre estudo da hidroxicloroquina

"Não vimos nenhuma associação entre obter esse remédio e a chance de morrer ou ser intubado. Os pacientes que receberam a droga não pareciam se sair melhor", disse em entrevista à Reuters o principal pesquisador do projeto, Neil Schluger.

O uso do remédio em conjunto com azitromicina, combinação também usada no tratamento de pacientes do coronavírus, também foi testado pelo grupo de Schluger, assim como o uso apenas da azitromicina.

Em nenhum dos estudos, houve comprovação de benefícios claros quanto ao uso destas drogas.

"Embora alguns critérios faltem na pesquisa, os resultados que temos são bastante sólidos. Não achamos que, devido a totalidade das evidências que temos neste momento, que seja algo razoável administrar a hidroxicloroquina de forma rotineira entre os pacientes. Não vemos aqui justificativa para isso", declarou o pesquisador, desta vez para a revista Time.

Estudos apontam que hidroxicloroquina pode causar riscos

O remédio, usado no tratamento de malária, artrite reumatoide e lúpus, ganhou espaço na discussão sobre o combate ao coronavírus graças a estudos feitos pelo francês Didier Raoult , que indicaram um uso positivo da droga no tratamento de pacientes com Covid-19.

A hidroxicloroquina virou a droga da moda graças aos presidentes dos EUA, Donald Trump e do Brasil, Jair Bolsonaro, que fizeram propaganda do remédio e pediram que seu uso fosse administrado em pacientes dos mais variados graus com a doença. O remédio chegou a ser usado em pacientes com estado grave em algumas situações, com bom resultado.

No entanto, diversos estudos também apontaram a ineficácia e um possível perigo em usar a hidroxicloroquina, por causa dos efeitos colaterais, como retinopatia grave e problemas cardíacos. No Brasil, um estudo feito em Manaus (AM) teve que ser interrompido devido a pacientes terem morrido após complicações pelo uso do medicamento.