Um time de cientistas do instituto Max Planck para sistemas inteligentes (MPI-IS), em Stuttgart, Alemanha, desenvolveu um microrrobô inspirado nos leucócitos do sangue que é capaz de viajar através do sistema circulatório. Com o mesmo formato e tamanho que os glóbulos brancos, e alcançando a mesma mobilidade, estes autômatos microscópicos podem revolucionar o tratamento de doenças como o câncer.
O uso de microrrobôs, também conhecidos como nanobots, promete uma verdadeira revolução no tratamento médico. Baseado no conceito de teranóstica (do inglês, theranostic), o tratamento propõe uma atenção personalizada e precisa, melhorando a condição geral do paciente.
Nascido da união de duas palavras: terapêutica e diagnóstico, o termo define a utilização de um único agente, chamado radiofármaco, que permite o diagnóstico, a medicação e o monitoramento da resposta ao tratamento de forma simultânea. Aí se encaixam os pequenos robôs, responsáveis por acessar, no interior do corpo do paciente, a área afetada pela doença e promover seu tratamento com um mínimo de procedimentos invasivos.
A ficção virando realidade
Assim como nos filmes: "Viagem Fantástica" (1966) e "Viagem Insólita" (1997), o sistema circulatório é a rota ideal para navegar no interior do corpo humano.
Os microrrobôs são esferas que respondem a sinais magnéticos e com a capacidade de identificar, de modo autônomo, células cancerígenas e de liberar drogas específicas para seu combate.
Os leucócitos, especializados na defesa do organismo, são as únicas células do sistema circulatório capazes de “nadar contra a corrente”. As demais apenas seguem o fluxo. Parte do sucesso deve-se ao fato de que o fluxo sanguíneo é menor próximo às paredes dos vasos. Aproveitando este fato, estes microrrobôs testados são os primeiros a vencer a força do fluxo do sangue.
Cada microesfera é feita de micropartículas de vidro. Os cientistas envolveram a microesfera robótica com um nanofilme magnético de um lado, isto é, uma fina película de níquel e ouro, e do outro lado por moléculas de drogas de combate ao câncer e por biomoléculas capazes de reconhecer células cancerígenas.
Não há melhor forma de atingir tecidos e órgão do que através do sistema circulatório
Os testes se mostraram bastante promissores. Não há melhor forma de atingir tecidos e órgão, especialmente em áreas sensíveis, do que através do sistema circulatório. A simulação dos vasos sanguíneos em laboratório pode aferir a resposta da navegação magnética através de um meio denso e bastante dinâmico. O deslocamento do nanobot alcançou a marca de 76 comprimentos de corpo por segundo. Fazendo as contas, podemos imaginar que um carro de 2 metros de comprimento, movendo-se na mesma proporção, percorreria 152 metros em um segundo. É bem rápido.
Entrega específica e exclusiva ao destinatário
As terapias convencionais comumente acarretam a distribuição aleatória, ou não-específica das drogas utilizadas, causando efeitos colaterais potencialmente graves em órgãos e tecidos adjacentes a área afetada pela doença.
“Nosso protótipo pode representar a próxima geração de veículos para administração de drogas de forma precisa e minimamente invasiva, mesmo em tecidos profundamente localizados no corpo, através de rotas ainda mais difíceis do que era possível até agora” diz Metin Sitti, Diretor do Departamento responsável pelo experimento.
Ainda existem muitos desafios para serem vencidos até que os microrrobôs possam ser utilizados em tratamentos reais em humanos. Mas com certeza é um bom começo.