São seis da manhã e ela acordou mesmo! Me olha sorrindo como quem diz: bom dia! A manhã está fria e não quero deixar as cobertas. A mãe, que já terminou de dar de mamar, passa aquela coisinha sorridente para mim, convicta de seu dever cumprido. Com frio e, (confesso!), preguiça de levantar, brinco um pouco com ela ainda deitada entre eu e a mãe. O objetivo é a Paternidade ativa.
Missão 1: Ganhar tempo!
Acordar e brincar com seu bebê é um privilégio! Tenho absoluta consciência disto. Porém, às vezes, pouco desafiador demais!! Mas, com alguma imaginação e um certo empenho, desenvolvemos aos poucos alguns “truques” que funcionam.
Criar um repertório de atividades, jogos e brincadeiras que agradam sempre, é como contar aquela mesma piada na roda de amigos quando já estão de pileque. Todos acabam rindo do fato de ainda estarem rindo, e de novo! Pois bem, vou lhes contar um segredo, todos gostamos de experimentar coisas que nos trazem conforto e tranquilidade porque já são conhecidas. É o que sustenta a ideia de tradição. Quanto menor a criança, mais estas experiências são necessárias. Paternidade ativa é isto também.
Mas voltemos a minha tática de distração. Minha filha gosta especialmente de uns movimentos que faço com a mão e os dedos no ar abrindo e fechando enquanto se aproxima ou afasta de seu rostinho. Ela observa atentamente.
Às vezes sorri, e então olha concentrada. Segura meus dedos, solta. O jogo se estende por alguns minutos e, (oba!) continuo sob as cobertas. Com seis meses e meio, já está aprendendo a sentar. Quando se cansa da brincadeira da “mão voadora”, eu a ponho sentada e a mudança de ponto de vista lhe distrai por mais alguns minutos.
Um aprendizado importante é: cada minuto conta! A atenção dos bebês não se mantem por muito tempo em coisa alguma. Sendo assim, uma boa ideia é apresentar uma proposta de cada vez, deixar que a criança perca o interesse e, somente então apresentar outra. Comigo tem dado muito certo. Hoje, foi um dia especialmente feliz! Com mais duas brincadeiras eu ganhei dez longos minutos de prorrogação.
Mas chegou seu limite e vamos deixar a cama em busca de novas aventuras! A mamãe fica dormindo, afinal, combinação é tudo. Optamos pela livre demanda, e por conta disto a mãe fica acordada por mais tempo que o pai durante a noite. Como uma forma de compensar este esforço, eu fico responsável por atender o bebe assim que ela acorda. Isto não quer dizer que, durante a noite, não acordo ou troco fraldas quando necessário. Mas, no momento em que a mãe e o bebe se conectam durante a mamada, minha participação não é mais necessária. Por isto, eu que sempre acordei mais cedo, assumo o primeiro turno. Mesmo em isolamento social.
Depois destes minutos habilmente conquistados –experiência vale ouro!– vamos ao trocador para substituir a fralda e também o body usado como pijama.
Este é um local que a acalma e distrai. Aproveito para deixa-la brincar um pouco com coisas como, a embalagem do creme contra assaduras, o pote plástico onde fica o algodão, a embalagem vazia do soro fisiológico e ganhamos mais um tempo de distração! Cada minuto conta, lembra? Quando se entedia, a criança tende a chamar a mãe, o que fatalmente irá acontecer, então, para honrar nosso acordo, começa a
Missão 2: Brincar!
Ué, mas você não estava brincando até agora? É importante destacar que brincar é “criar novas sinapses” isto é: botar o cérebro para “malhar”! Segundo a pediatra Ana Escobar, “Um bebê estimulado faz em média 700 sinapses por segundo”. Mas isto cansa, e logo este pequeno cérebro quer outra coisa.
Sendo assim, antes eu estava brincando para ganhar tempo, agora vou ganhar tempo para brincar. Vamos então para a área de brincar, um quadrado de EVA onde ficam os brinquedos mais ortodoxos, ou nem tanto. Temos bichinhos de látex que apitam, chocalho com tampas de garrafa pet e também brinquedos montessorianos de madeira. O jogo vai sendo estabelecido em dupla. Quando ela brinca só, apenas observo. Quando me convida (ou me intrometo, afinal, por que eu perderia esta oportunidade de brincar também?) construímos outro momento de pai e filha. Ficamos assim por muito tempo. Chega o momento em que o desinteresse pelos brinquedos, o desejo de mamar ou, por que não, a saudade da mãe começa a inquietar a pequena.
Nova mudança! Eu a coloco no canguru ou no sling (gosto de alternar) e vamos pôr a mesa do café da manhã. A ideia de incluir a criança nas tarefas e atividades da casa é sempre interessante. Mas o que um bebe de seis meses pode fazer? Aquilo que faz de melhor: Aprender! Enquanto levo para a mesa pratos, xícaras e talheres, ela (claro!) quer pegar alguma coisa. Uma colherinha de café é o bastante para provocar uma concentração maravilhosa. Ao mesmo tempo, e o tempo todo, conversamos naturalmente. Quer ajudar, filha? Pega esta. E quando chegamos mesa eu agradeço a ajuda, afinal educação e delicadeza devem começar cedo. Obrigado por ter trazido a colher, filha. Posso por aqui na mesa? Penso que mais do que eu a estar “educando” estamos construindo uma relação e que como em qualquer relação saudável, ambos vamos mostrando ao outro o que gostamos ou não e como gostaríamos de ser tratados.
Tento manter isto em mente como objetivo de vida! Do mesmo modo, também não forço a retirada da colher de sua mãozinha. Senão não seria um pedido, certo? Este é um aprendizado difícil para adultos, mas vale muito a pena insistir nele. Somo criaturas de hábitos, se nos habituamos a “arrancar” as coisas das mãos da criança, seguiremos fazendo isto até que ela se rebele e resista ou, muito pior, que se acostume e aceite.
Então quem manda é ela?
Não. Quem manda é o bom senso. É um bebê, não sabe falar, mas deseja e sente como qualquer ser humano. Se ter este cuidado com alguém que tem somente seis meses parece estranho, sugiro fazer o seguinte exercício mental: Imagine que você está, ainda que momentaneamente, impedido de se expressar e de se cuidar só.
Consegue imaginar qual seria sua sensação se seu cuidador ou cuidadora chegasse arrancando o vídeo, daquela série que você adora, de sua mão? Ou então puxando a sua mão no exato momento em que você conseguiu alcançar aquele ponto exato onde está sentindo uma coceira irritante, para lhe vestir um pijama? Pois é, se você não gostou do tratamento, não imagine que um bebê irá gostar. Nunca é demais repetir que a palavra Educar vem do Latim educare, que é um derivado de ex, que significa “fora” ou “exterior” e ducere, que tem o significado de guiar, conduzir. Ou seja, em latim, educação tinha o significado literal de “guiar para fora” e pode ser entendido que se conduzia tanto para o mundo exterior quanto para fora de si mesmo.
Bem diferente do modo em que normalmente pensamos o aprendizado, não é? A educação formal, tanto fora quanto dentro de casa, costuma ser uma tentativa de “enfiar” ideias e conteúdos. Mas isto é assunto para outro papo. Aqui estamos falando de um pequeno trecho do dia de um pai com sua filha bebê. Voltemos a
Missão 3: Pensar para ensinar a pensar
Terminamos de pôr a mesa enquanto a mamãe lavava o rosto e já estamos todos juntos. Os adultos à mesa e a pequena nos observando em seu carrinho de bebê. Estes encontros diários têm pequenas variações. Do tipo, ela dorme, e tomamos o café sozinhos. Ou então, ela não aceita ficar no carrinho e nos revezamos segurando-a no colo durante o café. Ou ainda, como hoje, ela fica brincando com alguma coisa e nos observa de vez em quando.
Tudo dentro da diretriz básica: É hora do café do papai e da mamãe, a gente conta com tua colaboração. Dependendo do dia, ela irá mamar imediatamente antes ou imediatamente depois do café. E assim, vamos construindo uma rotina que atenda nossos desejos e necessidades. Quando digo nossos, quero dizer: de todos nós. A inspiração vem da chamada “criação com apego” (do inglês Attachment Parenting – AP), termo criado pelo pediatra William Sears em 1982, que por sua vez, foi influenciado pelo livro The Continuum Concept de Jean Liedloff.
A ideia central é que, independentemente da enorme dificuldade em se expressar e de compreender toda a complexidade do mundo que os envolve, estes pequenos seres humanos sentem.
E sentem exatamente como qualquer um de nós. Enquanto estou digitando esta frase com um dedo só, com minha filha dormindo em meu colo, penso na regra mais revolucionária que li nestes poucos meses de contato com esta filosofia: siga seus instintos! Pode parecer demasiadamente aberto e sem limites, mas se formos honestos, não é exatamente assim que a vida se mostra? Não há e, quero crer, nem há de haver, uma norma de conduta que nos abranja a todos. Siga seu bom senso me parece dizer tudo o que precisamos saber. Deste momento em diante, a mãe já está no circuito. Como estamos em casa o tempo inteiro, vamos nos alternando nos cuidados com a criança. Então posso dizer: missão cumprida.
Os pais devem tratar seus filhos da maneira que eles desejam ser tratados
Os princípios da Criação com Apego estão fundamentados na teoria do apego, que vem sendo estudada por mais de 60 anos. Primeiramente, por pesquisadores de psicologia e desenvolvimento infantil e, atualmente, também por pesquisadores estudando o cérebro. Não me lembro da primeira vez que ouvi algo sobre criação com apego. Mas me recordo exatamente da primeira vez que ouvi o que chamam de "regra de ouro" da criação. Eu argumentava que, se tiramos a bebê do berço ao primeiro sinal de choro nós a acostumaríamos mal. O contra-argumento foi exatamente a frase acima: os pais devem tratar seus filhos da maneira que eles desejam ser tratados. Me vi imediatamente naquela situação de solidão e vulnerabilidade e pensei que uma determinação que não permite contraposição é violência. Isto não é educação, é abuso de poder. Os estudos mostraram que, além da óbvia necessidade de ser alimentado, os bebês nascem com forte necessidade de permanecer fisicamente próximos ao cuidador principal, normalmente a mãe, durante os primeiros anos de vida. Ficou provado nestes estudos que o desenvolvimento emocional, físico e neurológico da criança é amplificado quando as necessidades básicas são atendidas. Estas necessidades são: proximidade, proteção e previsibilidade. Tenho muitas dúvidas e inseguranças na paternidade, claro. Mas me sinto indo no caminho certo quando, ao passar para o colo da mãe, minha filha me olha e me sorri como quem diz: legal, estava feliz quando estava com você também. Àqueles que nunca vivenciaram este sentimento fica a dica: experimentem. Basta uma “mão voadora” para despertar a imaginação de um bebê, e com imaginação construímos o mundo.
Agora vocês vão me dar licença, que estou indo ali ensaiar umas coreografias novas...