O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) publicou no último domingo (16) em sua conta no Facebook a informação de que a maioria das pessoas são imunes ao novo coronavírus. De acordo com a informação divulgada por Bolsonaro, esta afirmação veio de "um dos melhores estudos sobre o Covid-19". As informações são do portal UOL.
A publicação de Bolsonaro questiona a eficácia do isolamento social, a publicação diz ainda que este tipo de isolamento é baseado em uma ciência falha. Bolsonaro no Facebook incentiva a leitura de um suposto estudo do neurocientista britânico Karl Friston.
O portal UOL conversou com Natalia Pasternak, microbiologista que é presidente do Instituto Questão de Ciência, e também com Fábio Mesquita, epidemiologista que foi diretor do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde.
Ambos os especialistas concordam que não existe imunidade contra a Covid-19 para a maior parte das pessoas. Se este patamar já tivesse sido atingido, afirmam eles, a pandemia não teria afetado todo o mundo, com um número crescente de casos da doença e mortes.
Natalia Pasternak disse que uma pessoa só pode ser considerada imune quando já foi vacinada ou já contraiu a doença e seu sistema imunológico produziu uma resposta que a protegeu, afirmou a especialista.
Fábio Mesquita acrescentou que só será possível chegar a um momento de imunidade com uma vacina, somente desta maneira será possível chegar a um nível próximo ao que era considerado normal.
Fake news
O estudo que Bolsonaro compartilhou possui 20 autores, porém Karl Friston não foi um deles. Friston apenas comentou o estudo, que foi publicado na revista estadunidense Cell, durante uma entrevista ao jornal britânico The Guardian, na qual fez uma análise do motivo da resposta alemã à Covid-19 ter sido melhor do que a britânica.
OMS
A Organização Mundial da Saúde comunicou na terça-feira (18) que a imunidade de rebanho é descartada pela organização e divulgou dados que mostram que 90%, em média, da população mundial ainda está suscetível ao novo coronavírus.
A rede social de Mark Zuckerberg afirmou que medidas não serão tomadas contra o post do líder do Executivo do Brasil, pois, de acordo com o entendimento da empresa, políticos eleitos são monitorados pelo povo.
Por sua vez, o Planalto e o site que foi citado no post de Bolsonaro, Frontliner, não comentaram a publicação de Jair Bolsonaro.
Frontliner
O endereço do site é uma sala de coworking localizado na avenida Paulista, em SP. Elizabeth Kwiek é a responsável pelo Frontliner. Ao se pesquisar este nome no Google, o resultado é a associação a um CNPJ que foi desativado em 2015. A principal atividade da empresa era o fornecimento de alimentos.
O UOL ainda fez uma pesquisa com o CNPJ Frontliner BKP (Beth Kwiek Produções Ltda), o que se descobriu foi que ele foi aberto em junho deste ano. O telefone informado pela empresa cai na caixa postal de um escritório de contabilidade.
Segundo informou o UOL, a principal atividade da BKP é a produção de conteúdo audiovisual. A assessoria de comunicação da Presidência da República também foi procurada pelo UOL para comentar o caso, mas o órgão não quis comentar o assunto.