O Brasil disseminou fake news sobre a Covid para o mundo, afirma o virologista brasileiro Rômulo Neris, que integra a equipe Halo, iniciativa chancelada pela Organização das Nações Unidas (ONU) e que busca combater notícias falsas sobre a pandemia.
Em entrevista ao jornal Valor Econômico, Neris afirma que as informações falsas a respeito da pandemia, tratamentos precoces e da vacinação, propagadas pelo governo brasileiro, principalmente pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), são fatores que atrapalharam o combate à doença.
Segundo o pesquisador, Bolsonaro não apenas deixou de apoiar medidas protetivas e preventivas, como minimizou e até negou a existência da doença.
Um exemplo é quando qualificou publicamente o novo coronavírus de "uma gripezinha", no início da pandemia, ocasião em que a doença já causava muitas mortes e internações. Além disso, o chefe do Executivo foi um mau exemplo ao estimular aglomerações e criticar as medidas protetivas, como o fechamento de estabelecimentos comerciais e educacionais, ou a limitação de público, no auge da crise, e ainda estimular a não vacinação e o não uso de máscaras. E pior: foi o garoto propaganda de remédios ineficazes para o tratamento da covid-19, conforme atestou a comunidade científica internacional.
Presidente e Ministério da Saúde mentem
O virologistas não poupa críticas também ao Ministério da Saúde, que seguiu a linha do presidente e dificultou o acesso às vacinas e ainda promoveu desinformação em caráter oficial.
Assim, medidas preconizadas internacionalmente por órgãos de saúde foram minimizadas ou negligenciadas.
Ao analisar o fluxo e fake news ao redor do mundo, o pesquisador descobriu que boa parte delas eram originárias do Brasil. Rômulo, PhD em imunologia, lembra que outras campanhas de desinformação surgiram em outras epidemias e pandemias internacionais, mas devido às facilidades tecnológicas, como as redes sociais, hoje as fake news correm o mundo mais rápido e fazem mais estragos.
Fake news matam
Para Rômulo, as fake news na área da saúde são assuntos sérios, pois matam a médio e longo prazos, e modelam as dinâmicas populacionais durante a pandemia. Vários cientistas ligados a Halo, de países como Reino Unido, Canadá, Índia, África do Sul e Austrália, gastam uma boa parte de seu tempo desmentindo informações falsas e gerando conteúdo para influenciadores digitais e jornalistas.
Entretanto, ele lamenta que as informações simplificadas das fake news são mais absorvidas como verdades do que as informações científicas divulgadas por médicos e pela imprensa.
Cientistas precisam falar de maneira mais fácil com a população
Em geral, segundo o imunologista, as fake news têm características próprias, como texto simples e apelativo, mensagem clara e em tom de ordem. Por isso, o pesquisador brasileiro acha que os cientistas devem procurar falar numa linguagem o mais acessível possível para que a população entenda. E ele não tem dúvidas que toda essa desinformação proposital está contribuindo para o prolongamento da pandemia.