Dia 27 de janeiro de 1945 é uma data que não sai fácil da memória dos sobreviventes que viveram os horrores do Holocausto praticados pelo governo nazista da Alemanha. Aliás, a palavra “Holocausto” tem origem grega e latina remetendo aos tempos da Antiguidade, com o seguinte significado: sacrifício de animais pelo fogo com finalidade religiosa.

Só a partir da Segunda Guerra Mundial, o verbete ganhou uma conotação mais sombria e assustadora: “homicídio metódico de grande número de pessoas, especialmente judeus e outras minorias étnicas, executado pelo regime nazista” – ao menos, esta é a definição que consta no Dicionário de Português Priberam.

Os que transpuseram esse evento e sobreviveram, contam até hoje quais eram as únicas opções quando se adentrava pelos portões de Auschwitz: o trabalho escravizado e extenuante ou a morte nas câmaras de gás. No entanto, as vítimas não eram somente os judeus. A lista de perfis ideais era grande e variada: ciganos, homossexuais, comunistas, Testemunhas de Jeová, prisioneiros de guerra soviéticos e poloneses e pessoas com alguma deficiência física ou mental. Indiretamente, outros fantasmas rondavam a Saúde dos prisioneiros como a fome e a transmissão de doenças contagiosas, devido às péssimas condições encontradas no campo de extermínio.

Pouco antes

Quando o exército da União Soviética invadiu Auschwitz em 1945, parte da população mundial não acreditava em campos de concentração.

Na verdade, a base de extermínio mais famosa da História do século XX, localizada na Polônia, entrara em operação em 1940 e funcionou por quase meia década como a sede final para 1,1 milhão de judeus assassinados.

Se se levar em conta a quantidade total destes campos de eliminação sumária, estimada num total de 200 áreas promotoras do Holocausto, 6 milhões de judeus tiveram suas vidas ceifadas dentro e fora do território alemão.

Até os Aliados eram incrédulos em relação ao extermínio de judeus na Europa. Documentos do governo exilado da Polônia em Londres, escritos em 1942, descreviam a situação pavorosa a que os judeus eram acometidos. Alguns simplesmente achavam que os relatos eram exagerados ou que os poloneses queriam atrair a atenção dos Aliados para libertar o país do jugo nazista mais rapidamente.

Os militares que lutavam pelos Aliados não apreciavam interferências dos civis em assuntos de estratégia militar. Para eles, os que não usavam farda proclamavam uma questão humanitária e que, portanto, não era assunto de comandantes e generais.

Ainda assim, entre os anos de 1943 e 1944, o exército inglês atingiu um posto de combustível sintético perto do campo de concentração de Auschwitz. Mas foi só.

Data escolhida

Por ser a libertação dos judeus e a derrocada final de Auschwitz, a Organização das Nações Unidas instituiu o dia 27 de janeiro como o Dia Internacional em Homenagem às Vítimas do Holocausto.

Com esta iniciativa, o que se quer é que as pessoas conheçam essa página melancólica e horrenda da história contemporânea, conscientizando-se e impedindo que outros povos e raças não sejam os próximos alvos.

Na cidade de São Paulo, existe um museu dedicado ao Holocausto e inaugurado em 2017. Ele funciona numa antiga sinagoga situada no bairro do Bom Retiro.

Em solenidade ocorrida dentro do próprio campo de Auschwitz, por volta de 50 a 60 autoridades de diversos países prestaram suas homenagens ao genocídio contra os judeus. Apesar de 75 anos passados, há atualmente em alguns países o temor à crescente onda de antissemitismo.

Uma das imagens mais marcantes desta segunda-feira (27) foi a travessia do portão pelos sobreviventes e seus descendentes. Em cima dele, há uma inscrição de ferro com os dizeres em alemão “Arbeit macht frei” (O trabalho liberta). Foi neste mesmo portão que muitos nunca mais viram esses dizeres.

Reforçando a lembrança, vários que compareceram à solenidade usavam gorros e lenços listrados de azul e branco, numa referência aos uniformes usados pelos prisioneiros.

Testemunhas vivas

Yvonne Engelmann, de 92 anos, relata que perdeu os pais em Auschwitz e recordou que “podíamos ouvir crianças tossindo, chorando e sufocando com o gás; sentíamos o cheiro da carne humana”. Ela sobreviveu por um milagre, pois, logo que chegou ao campo de concentração foi despida, rasparam-lhe a cabeça e a encaminharam direto para a câmara de gás. Felizmente, a câmara não funcionou naquele dia.

A polonesa Bronislawa Horowitz-Karakulska foi junto com sua mãe, quando tinha a idade de 12 anos; lá a triagem fatal era “quem parecia fraco, magro e ossudo... “. Hoje, com 88 anos, ela disse que escapou da morte porque sua mãe subornou os soldados alemães com um diamante. “Havia muitos soldados, cães latindo, agitação, medo. Auschwitz foi um horror”.