A economia mundial parece aquele bêbado que saiu do boteco e anda cambaleando pela calçada. Parece que a dose ingerida foi bem além da conta e se faz sentir no berço mais sólido dos Negócios financeiros, os bancos dos Estados Unidos.

Divulgando os resultados relativos ao terceiro trimestre, as instituições financeiras mostraram lucros em queda, deixando o mercado de ‘cabelo em pé’.

Bancos como o JP Morgan Chase, Citigroup, Morgan Stanley, Goldman Sachs e Wells Fargo registraram um superávit total de US$ 29,54 bilhões no terceiro trimestre de 2022.

Até aí, tudo bem; porém, o que preocupa é o desempenho comparado no mesmo período de 2021, quando o lucro total destes bancos foi de US$ 38,23 bilhões. Em termos percentuais, a reta do gráfico desceu 22,73%. Quase um quarto a menos.

Por que está parando?

Além da fraca atividade dos bancos de investimentos, as organizações do ramo financeiro elevaram seus limites nas provisões de perdas futuras. Ou seja, para não sofrerem perda em operações consideradas duvidosas, elas estão mais cautelosas em suas operações e, portanto, traçam um cenário ruim para o futuro. Mesmo com o aumento da taxa de juros dentro dos Estados Unidos, os bancos sinalizam que estão com o ‘pé atrás’.

Essa alta margem de segurança adotada pelas instituições financeiras se deve, basicamente, à concessão de empréstimos arriscados durante o ano de 2020, o primeiro da manifestação da pandemia de coronavírus.

Já em 2021, a expectativa delas melhorou, acreditando numa retomada mais rápida da economia americana; então a margem de resguardo baixou. No entanto, o retorno ao aumento dessas provisões aconteceu porque é grande o temor de os Estados Unidos entrarem em recessão.

Esforços estão sendo feitos para que isso não se concretize: um exemplo é a política monetária que objetiva a contenção da inflação.

Mesmo assim, os seis maiores bancos elevaram as provisões para possíveis perdas futuras em US$ 2,5 bilhões.

Questão de opinião

Alguns acham que esse reforço nas provisões é uma decisão acertada, o que caracterizaria um preparo prévio e sólido vindo das empresas financeiras, caso uma desaceleração econômica sobrevenha.

Essas gigantes precisam administrar bem o patrimônio, já que possuem quase US$ 1 trilhão em capital.

Muito dinheiro a se preservar, tentando atravessar a perspectiva mais pessimista dos próximos anos para, então, voltar a apostar numa melhora.

A análise efetuada nos Estados Unidos é o reflexo do que se observa na economia global: uma desaceleração econômica gradual e contínua.

Jane Fraser, presidente do Citigroup, atesta que “há evidências acumuladas da desaceleração do crescimento global, e agora esperamos experimentar uma recessão contínua no país a partir deste trimestre”.

Uma vez que a sombra da retração ronda os grandes bancos, alguns já começam a se debruçar na mesa, quando se trata de posicionamento, de presença nos negócios e de participação no mercado. David Solomon, presidente do Goldman Sachs, é enfático: “Eles me dizem que estão repensando as oportunidades de negócios e gostariam de ter mais certeza antes de se comprometer com planos de longo prazo.”

Não muito claro

Mesmo com o coro afinado de que o ritmo da economia vai diminuir, os representantes dos bancos ainda não sabem de que maneira isso ocorrerá.

Sabem que o gasto do consumo das famílias tem sido consistente em meio à incerteza.

Diretor-executivo do JPMorgan, Jamie Dixon adotou uma visão mais macro acerca da conjuntura desenhada de queda geral na economia. Citou a alta persistente da inflação, o conflito da Ucrânia e a instabilidade na cotação dos preços do petróleo. No lado positivo, ele lista maior oferta de emprego e o uso da reserva de dinheiro efetuada pelos consumidores, quando estes não possuem condições de quitar seu crédito.

A formação desse ‘colchão de provisões’ está sendo feita porque, por exemplo, o JPMorgan relatou a recuperação de US$ 727 milhões em dívidas, mas, ao mesmo tempo, disse que sofreu uma perda de US$ 959 milhões em títulos de investimento.

O banco Wells Fargo está sentindo uma diminuição de seus lucros. Especializado em empréstimos disponíveis para o mercado imobiliário, a queda de um ano para cá foi de 52%. No saldo final de todas as suas operações o Wells Fargo conseguiu um saldo positivo de 4% em 2022 em comparação com o ano passado.

Durante uma entrevista, Jamie Dixon disse que “pode ocorrer qualquer coisa, desde um pouso suave a uma dura recessão”. Nos Estados Unidos, o consumidor está se segurando mais para gastar, uma tendência que deve crescer quando chegar os tempos difíceis na economia.

Com estes prognósticos , é bem provável que o bêbado caia de vez no chão; só não se sabe se cairá de costas ou de frente, danificando não só a cara como os dentes, um pouco pior em relação a cair para trás.