Em nota divulgada no domingo (10), o Gabinete de Segurança Internacional (GSI), comandado pelo general Augusto Heleno, confirmou preocupação com o Sínodo 2019 que ocorrerá no Vaticano em outubro. O evento reúne, em Roma, bispos de todo o mundo e, neste ano, o foco será a Amazônia.

Segundo matéria do jornal Estado de S. Paulo, informes da Associação Brasileira de Inteligência (Abin) circularam no Planalto, sugerindo monitoramento das atividades da Igreja Católica.

Augusto Heleno, ministro chefe do GSI, teria declarado que seria preciso neutralizar o Sínodo, por achar que se trata de interferência na soberania nacional.

Para Heleno, membros do clero com orientação progressista se aproveitariam do evento para promover oposição ao Governo de Jair Bolsonaro. Uma das sugestões colocadas pelo Gabinete foi a de que um representante diplomático brasileiro acompanhasse a reunião no Vaticano.

Em nota, o GSI esclareceu que não há qualquer ação de investigação da Igreja, mas que cabe ao Brasil cuidar da Amazônia. A preservação da região, contudo, é de interesse global: o Sínodo da Amazônia, convocado pelo Papa Francisco e organizado pela CNBB em articulação com movimentos indigenistas é financiado por organizações estrangeiras, dentre elas a Fundação Ford.

Parlamentares da oposição manifestaram que devem convocar Heleno para explicar suas declarações em tribuna na Câmara.

O deputado federal Marcio Jerry, do PCdoB, indicou que deverá protocolar o pedido nesta terça-feira (12).

Resposta da Igreja Católica

O secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Leonardo Steiner, declarou que o Sínodo é uma reunião de membros da Igreja para a Igreja. Os convites, emitidos pela Santa Sé, passam diretamente pelo filtro do papa – que, nas eleições, chegou a se manifestar contra as ideias defendidas pelo então candidato Jair Bolsonaro.

O Sínodo da Amazônia discutirá problemas referentes à Pan-Amazônia, que ocupa 9 países ao todo, e está sendo planejado desde 2017. Reuniões preparatórias têm ocorrido desde então nas dioceses brasileiras para elaboração do Documento Preparatório, divulgado em junho de 2018. No documento, evidencia-se a pauta da "ecologia integral" e de "novos caminhos para a evangelização", sendo enfatizada a importância de se respeitar e escutar os povos indígenas.

Planos do governo para a Amazônia

Já em sua campanha para a presidência, Jair Bolsonaro declarava que a demarcação de terras indígenas não teria lugar e que as legislações ambientais seriam flexibilizadas em favor do agronegócio.

Logo após a tomada de posse, o presidente transferiu a Fundação Nacional do Índio (Funai) para o Ministério da Agricultura, comandado por Tereza Cristina (DEM), que esteve à frente da Bancada Ruralista quando deputada. A proteção da população indígena, por sua vez, ficou sob responsabilidade do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, da pastora Damares Alves, envolvida em polêmicas. Dentre as tensões relacionadas à sua ONG, Atini, e a atuação junto a tribos indígenas, Alves foi acusada de levar, irregularmente, uma criança de uma aldeia Xingu, a quem criou como filha.

Além disso, há planos do governo para facilitar a mineração na região Norte e expandir a produção de energia hidrelétrica e nuclear na Amazônia, ambas de alto impacto ambiental.