Afirmações sem fundamento científico sobre o uso da hidroxicloroquina no combate à Covid-19 fizeram parte da entrevista coletiva dada pelo presidente Jair Bolsonaro à imprensa na última terça (7), dia em que divulgou o resultado positivo para o coronavírus.

Bolsonaro disse

"Se eu não tivesse feito o exame e tomado hidroxicloroquina como prevenção, como muita gente faz, estaria trabalhando até... obviamente poderia estar contaminando gente essa foi a minha preocupação de fazer o exame na própria segunda (6) para evitar o contágio de terceiros", disse o presidente.

Porém, de acordo com estudo citado em um artigo do jornal Folha de S.Paulo sobre a eficácia do uso da hidroxicloroquina no combate ao vírus, não se pode afirmar que o remédio impeça o agravamento do quadro clínico e não existem provas que a cloroquina seja capaz de impedir o contágio do novo coronavírus entre as pessoas.

O presidente também disse que a equipe médica resolveu aplicar hidroxicloroquina na segunda (6), por volta das 17h, junto com azitromicina. Na terça (7), às 5h, tomou a segunda dose e, segundo as suas palavras, está se sentindo muito bem.

Segundo informações do mesmo artigo, a combinação dos dois medicamentos é contraindicada por autoridades de saúde americanas devido a sua potencial toxidade.

Bolsonaro também declarou que o vírus é como uma chuva, irá atingir a todos, e que as pessoas de certa idade com problemas de saúde, se forem contaminadas, têm mais chances de morrer, porém, que os mais jovens, se pegarem a doença, podem ficar tranquilos porque a chance de atingir um quadro grave é próximo de zero. A declaração vai contra o que dizem especialistas de saúde desde o início da pandemia.

Resultado positivo repercute no meio político

Diversos políticos postaram em suas contas no Twitter comentários sobre o presidente ter contraído a Covid-19.

A deputada federal Carla Zambelli (PSL- SP) disse que o presidente falou de forma tranquila sobre o resultado positivo de seu exame e falou que está torcendo pelo restabelecimento da saúde dele.

O deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP) falou que é inacreditável o presidente fazer uso político da própria contaminação com o novo coronavírus, dizer que as pessoas não sentem nada com a doença e ainda avisar que não vai fazer isolamento. Segundo as palavras do deputado: "é muita podridão querer lucrar politicamente com isso!".

O governador do Estado de São Paulo, João Doria (PSDB), desejou pronta recuperação a Bolsonaro e que ele siga as orientações médicas para que esteja restabelecido em breve.

A deputada federal Joice Halssemann (PSL- SP) mandou um recado ao presidente dizendo que ele se descuidou de sua saúde, nas palavras dela Bolsonaro foi irresponsável com ele e com os outros ao boicotar o uso da máscara e o isolamento social. Mencionou que, certamente, o presidente contaminou muitas pessoas e pediu para que ele permaneça isolado até que se cure. "Seja responsável PR! "

Repercussão internacional do caso Bolsonaro

A mídia internacional também repercutiu o assunto.

O New York Times ressaltou que depois de meses negando a seriedade do vírus e descartando medidas preventivas, o presidente sentiu os sintomas do coronavírus.

A BBC lembrou que Bolsonaro chamou a pandemia de "gripezinha" e que ele pediu a prefeitos e governadores para abandonarem os bloqueios que, na opinião dele, causa prejuízo à economia.

O The Guardian, por sua vez, citou que Bolsonaro banalizou por diversas vezes a doença e desrespeitou o isolamento social, mesmo quando o Brasil se tornou o segundo país mais acometido pela Covid-19.

Outros órgãos importantes de imprensa, como The Wall Street Journal, a CNN americana e ABC, também noticiaram o exame positivo de Bolsonaro.