Em declaração na última terça-feira (17), na abertura da cúpula virtual do Brics, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ameaçou divulgar uma lista de países que importam madeira ilegal do Brasil, responsabilizando-os pelo desmatamento da Amazônia.

Ele alega que na lista estão "os mais severos críticos da ação do Brasil na Amazônia", mas não mencionou nomes.

O chefe de estado ainda disse que a Polícia Federal desenvolveu um método usando isótopo estável, similar ao DNA, capaz de descobrir a localização e identificar se a origem da madeira é legal ou ilegal.

Bolsonaro não se responsabiliza pelo desmatamento da floresta amazônica

"Esses países em parte têm responsabilidade nessa questão", disse o presidente durante a reunião do Brics. Porém, segundo artigo da Folhapress, esse seria um bom argumento se o próprio Bolsonaro não fosse a justificativa de preocupação dos europeus, que também admitiram fazer parte do problema.

Os líderes europeus acatam a preocupação dos seus eleitores contrários a qualquer tipo de consumo ligado ao desmatamento.

No Reino Unido, a rede de supermercados Tesco foi pressionada a se unir ao Greenpace em protesto contra a carne produzida no Brasil. Com isso, foi tramitada no país uma lei que obriga as empresas a comprovar que suas importações não estão ligadas ao desmatamento.

Além da madeira, os britânicos também se preocupam com produtos como carne, soja e óleo de soja vindos do Brasil.

A Alemanha, que demonstrou interesse em ampliar as relações comerciais com o Brasil, está receosa sobre o acordo comercial com o Mercosul, que se encontra parado no parlamento devido ao seu impacto no desmatamento ambiental.

Ao contrário do mandatário brasileiro, os líderes europeus, os quais Bolsonaro responsabiliza pelo desmatamento da floresta amazônica, assumem fazer parte do problema e buscam soluções, como faziam por meio do Fundo Amazônia, parado desde abril de 2019, quando o governo Bolsonaro extinguiu os colegiados Comitê Orientador (COFA) e o Comitê Técnico (CTFA), que formavam a base do fundo.

Bolsonaro não demonstra preocupação com o desmatamento ambiental

A desregulamentação das políticas de meio ambiente ganhou um nome próprio no governo: "passar a boiada".

Em março deste ano, o presidente do Ibama extinguiu a necessidade de autorização para exportação de madeira na Amazônia, após a agência Reuters revelar que o Brasil exportou milhares de carregamentos em 2019 sem a autorização do órgão ambiental.

Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente, exonerou André Sócrates de Almeida Teixeira, coordenador-geral para o monitoramento do uso da biodiversidade e comércio exterior, por ser contra exportação de madeira sem autorização.

Salles também analisou a possibilidade de exportar madeira in natura, em toras, solicitação feito por madeireiros ao governo federal.

O comércio ilegal de madeira não depende de um mercado ilegal porque ele acontece por meio de fraudes nas informações inseridas, por exemplo, no Documento de Origem Florestal, DOF, documento exigido para o transporte de madeira. O que significa que o comprador obtém madeira por meios legais sem saber se a origem é ilegal.

Além da lista de importadores, o presidente do Brasil possui todas as informações vitais para o combate da exploração ilegal de madeira: desde o monitoramento realizado por satélite pelo Inpe até as estratégias do Ibama sobre as áreas críticas e as operações de campo.

Ao invés de utilizar os recursos que tem disponíveis para combater o crime organizado, diretamente responsável pela desmatamento da floresta amazônica, Bolsonaro extinguiu os órgãos de controle ambiental.