O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) falou pela primeira vez nesta quarta-feira (10), após ter retomado seus direitos políticos e poder concorrer às eleições de 2022.

Na última segunda-feira (8), caiu como uma bomba no meio político a anulação feita pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Edson Fachin de todas as condenações de Lula proferidas pela Justiça Federal do Paraná na Operação Lava Jato. Desde então, era aguardado com expectativa um pronunciamento de Lula.

O petista concedeu coletiva divulgada pela suas redes sociais e veiculada também nos principais órgãos de imprensa.

Lula criticou sua prisão

O ex-presidente começou a coletiva afirmando que não é culpado dos crimes de corrupção apurados pela Operação Lava Jato. “Sabia que estavam prendendo um inocente. Muitos dos que estavam aqui não queriam que eu fosse me entregar. E eu tomei a decisão de me entregar porque não seria correto, um homem da minha idade, um homem com a construção da história construída junto com vocês, pudesse aparecer na capa dos jornais e na televisão como fugitivo”, explicou o político.

Lula disse que não guarda ressentimentos sobre o que aconteceu com ele. “Eu sei que fui vítima da maior mentira jurídica contada em quinhentos anos de história. Eu sei que a minha mulher a Marisa morreu [em 2017] por conta da pressão e o AVC [acidente vascular cerebral] se apressou.

Eu fui até proibido de visitar meu irmão dentro de um caixão [morto no início de 2019] (...) então se tem um brasileiro que tem razão de ter muitas e profundas mágoas sou eu, mas eu não tenho. Sinceramente eu não tenho, porque o sofrimento que o povo brasileiro tá passando, o sofrimento que as pessoas pobres estão passando neste país é infinitamente maior que qualquer crime que cometeram contra mim”, desabafou o petista.

Segundo o político, ele quer que o ex-juiz da Lava Jato Sergio Moro seja responsabilizado pelo que afirma terem sido acusações infundadas. "Nós vamos continuar brigando para que o Moro seja considerado suspeito [no meu julgamento], porque ele não tem o direito de se transformar no maior mentiroso da história do Brasil e ser considerado herói por aqueles que queriam me culpar.

Deus de barro não dura muito tempo", reclamou.

Cobertura tendenciosa da imprensa da Operação Lava Jato, segundo Lula

O petista alfinetou a atuação jornalística na cobertura das denúncias contra ele. “A maior preocupação do delegado que ia fazer o inquérito não era com a pergunta, era com o vazamento, e o vazamento era selecionado. Tinha jornalista específico da Folha [de S.Paulo], jornalista específico do Estadão, jornalista específico na Época, na Veja, na Isto É, jornalista específico em vários canais de televisão", disse.

O petista ainda seguiu com as críticas à cobertura midiática. "E todo mundo se lembra, quantas e quantas matérias do principal jornal da televisão aparecia um oleoduto, um gasoduto saindo dinheiro para falar vinte ou trinta minutos das denúncias dos procuradores sem nenhuma prova, mas eles [a imprensa] colocavam”, comentou.

Ainda de acordo com Lula, a intenção sempre foi tirá-lo do jogo político e da corrida eleitoral de 2018. "Afinal de contas, um torneiro mecânico sem dedo já tinha feito demais nesse país. Era precisa evitar que esse cidadão [Lula] pensasse em voltar a governar", esbravejou.

Ainda na coletiva, Lula criticou a política econômica de Jair Bolsonaro e ações do presidente no combate à pandemia do coronavírus.