Na noite da segunda-feira (29), o agora ex-ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, divulgou a carta que havia enviado ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) com o seu pedido de demissão. Na missiva, Araújo declarou que havia uma situação que tornava impossível que ele seguisse trabalhando pelo que ele chamou de “nossos ideais”.

Ele também afirmou que foi erguida contra ele uma narrativa que não era verdadeira, que estaria servindo a “interesses escusos nacionais e estrangeiros”, que estariam afirmando que sua atuação no comando do Ministério das Relações Exteriores atrapalharia na obtenção dos imunizantes contra a Covid-19.

Na carta, Araújo argumentou que teria apresentado todos os fatos que desmentiriam as alegações contrárias a ele, porém, infelizmente, no momento atual da vida no Brasil, a verdade não seria importante para aqueles que desejam ter de volta o poder –poder que, segundo ele, essas pessoas exerceram durante décadas e que deixou um legado de “atraso, corrupção e desgraça" para o país.

Críticas

O ex-ministro recebeu críticas severas dos senadores em uma sessão ocorrida no Senado na última quarta-feira (24). No encontro, foi debatida a atuação do Itamaraty na compra dos imunizantes contra a Covid-19.

Os senadores apontaram a responsabilidade do Itamaraty no atraso ao acesso a vacinas e insumos vindos de outras nações para o Brasil.

Eles cobraram Araújo por gestões diplomáticas para acelerar a vinda de insumos e pediram que ele renunciasse.

Ernesto Araújo não foi poupado pelos senadores, recebendo até mesmo a alcunha de “office boy de luxo”, apelido dado pelo senador Jorge Kajuru (Cidadania-GO). Já o senador Fabiano Contarato (Rede-ES), autor do requerimento para a sessão, listou as várias falhas da política externa na pandemia, em que declarações ofensivas foram feitas por integrantes do Governo contra outros países.

Contarato questionou Ernesto Araújo sobre o porquê dele não cumprir seu papel estabelecido na Constituição e atuar contra os interesses do Brasil. A atuação de Araújo, segundo o senador, tem um viés ideológico e é contra as recomendações da ciência e da diplomacia.

Opinião semelhante foi apresentada pela senadora Kátia Abreu (PDT-TO).

A parlamentar é presidente da Comissão de Relações Exteriores (CRE).

A senadora afirmou que o quadro diplomático é “desastroso”. Ela listou os vários atritos com parceiros comerciais importantes para o Brasil, como a China e os Estados Unidos, além do tratamento deselegante com o presidente da Organização Mundial de Saúde (OMS), que seria o motivo do Brasil não ter acesso ao excedente de vacinas que são controlados pela organização.

Respostas

Durante a sessão, o chanceler se defendeu, afirmando que não hostilizou representantes de outras nações –mesmo havendo diversos relatos disso. Ele ainda declarou que o Brasil não tem problemas diplomáticos que dificultem que imunizantes sejam obtidos.