O presidente Jair Bolsonaro (sem partido), nesta quarta-feira (31), mais uma vez criticou o recrudescimento das medidas restritivas que foram adotadas por governadores e prefeitos para tentar diminuir o avanço da Covid-19 e comparou as medidas com um estado de sítio, uma medida extrema que só pode ser colocada em execução pelo líder do Executivo federal, com autorização do Congresso, em caso de grave comoção ou guerra.
Bolsonaro afirmou que os prefeitos e governadores devem afrouxar as regras, pois os trabalhadores precisam voltar a ter renda. O mandatário fez críticas aos lockdowns, alegando que o isolamento social “extrapola em muito até mesmo o estado de sítio”.
Auxílio emergencial
O ocupante do Palácio da Alvorada ressaltou que os trabalhadores informais ficaram sem renda por causa da pandemia do coronavírus e afirmou que a fome está crescendo cada vez mais. Bolsonaro previu um cenário de crescimento da miséria e convulsões sociais e em seguida declarou que o auxílio emergencial “é um alento”, apesar de admitir que o valor seja insuficiente.
Jair Bolsonaro fez as declarações contra o isolamento social poucos minutos após deixar a primeira reunião do comitê formado pelo Governo federal e pelo Congresso para discutir medidas para o combate da pandemia. Também estavam presentes na reunião o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG).
Sintonia
O ministro da Saúde e o presidente do Senado apresentaram um discurso alinhado, em que defenderam medidas de distanciamento social e recomendaram que a população não fizesse aglomerações. Quem deu mostras de que não está na mesma página que eles foi o presidente da República, que mesmo com a cobrança de Rodrigo Pacheco para que o governo federal mantivesse um discurso unificado com o Congresso e com o Ministério da Saúde, foi só a reunião terminar para que Bolsonaro voltasse a fazer as costumeiras críticas às medidas de distanciamento social.
O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e o próprio Rodrigo Pacheco têm feito pressão para que o presidente abandone seu discurso negacionista, mas em sua declaração após a primeira reunião do comitê de crise, o líder do Executivo deu mostras de que não atendeu aos pedidos que vieram do centrão.
Além do centrão, Bolsonaro está vendo sua atuação na gestão da pandemia da covid-19 ser questionada por setores que outrora o apoiavam, como o mercado financeiro, que já não esconde o descontentamento com o presidente da República por causa das atitudes pouco efetivas no enfrentamento da Covid-19.
Um dos resultados de toda essa pressão se viu na fala do líder do Executivo em frente ao Palácio da Alvorada. Ao falar com apoiadores na entrada da residência oficial da presidência da República, Bolsonaro abandonou o tom agressivo e evitou polêmicas, recusando-se até mesmo a gravar vídeos com seus apoiadores. Sua justificativa para não poder se alongar na conversa com apoiadores foi a de que “deturpam tudo” o que ele fala.