Nise Yamaguchi, a médica oncologista apoiadora do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e defensora da cloroquina no tratamento da Covid-19 –estudos mostram que o remédio não tem eficácia contra o coronavírus–, decidiu entrar com um processo por danos morais contra dois senadores da CPI da Covid no Senado, a comissão parlamentar de inquérito que investiga as ações e eventuais omissões do Governo federal na gestão da pandemia.

Os alvos da ação da médica são os senadores Omar Aziz (PSD-AM), o presidente da CPI da Covid, e Otto Alencar (PSD-BA), que integra a comissão.

Misoginia

Segundo a médica bolsonarista, ela foi humilhada e sofreu ataques misóginos pelos senadores –misoginia é um termo que se refere a preconceito contra as mulhres– quando prestou depoimento na comissão no último dia 1º de junho. A médica está pedindo uma indenização no valor de R$ 160 mil a cada um dos senadores.

A Jovem Pan teve acesso à carta da especialista em que ela afirma que é de conhecimento público a humilhação e o desrespeito que ela teria sofrido durante seu depoimento na CPI da Covid. De acordo com a médica com mais de quarenta anos de experiência, ela nunca imaginou que iria passar por uma situação parecida. Ela lamentou na carta que no Senado, “a casa do povo brasileiro”, percebe-se que ainda existem comportamentos misóginos.

No documento, Nise ainda afirma que a condução da sessão foi guiada por “interesses políticos”. Várias vezes ela teve suas falas interrompidas, teve seus argumentos ignorados e lhe foram atribuídas palavras que ela não teria dito, reclamou a médica na carta. Ela também escreveu que não reagiu por falta de argumentos, mas por educação.

Redes sociais

Segundo Yamaguchi, por causa dessa situação ela começou a ser atacada nas redes sociais, o que causa preocupação em uma democracia. A médica também agradeceu o apoio de entidades como Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal e Conselho Federal de Medicina.

A médica que está entre os 14 investigados da CPI da Covid, em suas declarações aos senadores falou sobre temas como a alteração na bula de remédios e a possível existência de um gabinete paralelo, que teria dado aconselhamento ao presidente Jair Bolsonaro sobre como agir na pandemia do coronavírus.

A médica afirmou que na condição de mulher e idosa, ela optou por entrar com uma ação na Justiça contra os dois senadores, como uma maneira de restaurar sua integridade e a de vários outros médicos do Brasil, que também foram afetados por falas dos parlamentares naquele mesmo dia, disse a oncologista. Caso ganhe a ação, ela declarou que irá doar todos os R$ 360 mil a hospitais que atendem crianças que são vítimas de câncer.

Resposta

Os senadores Omar Aziz e Otto Alencar comentaram no último domingo (19) a decisão da médica bolsonarista. Alencar usou as redes sociais para dizer que a CPI começou a rastrear pagamentos em dinheiro vivo para pessoas ligadas ao Planalto e citou a médica, que teve pagas pelo governo federal oito passagens aéreas para se deslocar até Brasília, fato que poderá fazer com que ela seja ouvida novamente na comissão.

Aziz, por sua vez, pronunciou-se sobre a médica em entrevista à CNN Brasil, e também falou sobre os “pagamentos em espécie”. O senador declarou que a médica relatou na CPI que foram apenas três viagens para a capital do Brasil, porém, o número real seria treze, sendo que oito foram pagas com dinheiro vivo. “Ela tem muito mais a explicar do que eu”, disse o senador.