Pitadas de suspense e drama que culminaram em terror e em final triste. Bem que poderia ser mais um lançamento ou uma crítica relativa à literatura ou um livro aclamado pelo público. Não é: as últimas páginas a respeito da sobrevivência de uma das livrarias mais tradicionais e queridas dos paulistanos foram escritas.
A Livraria Cultura, situada na famosa esquina da avenida Paulista com a rua Augusta, teve sua falência decretada pela Justiça.
Foi uma saga de cinco anos, tentando alternativas e saídas para sair de problemas financeiros. Somado a isso, a crise foi agravada pela perda de interesse na compra de livros e os custos crescentes de produção envolvidos na feitura de um livro.
Mão pesada
O capítulo mais chocante veio do juiz da Segunda Vara de Falências e Recuperações Judiciais de São Paulo, Ralpho Waldo de Barros Monteiro Filho, o qual determinou na última quinta-feira (9), a falência da instituição.
Os motivos alegados por ele estariam baseados na falta de elementos robustos para que a Livraria Cultura saísse da crise econômica que tentava combater. Outro fator que pesou na decisão está na falta de cumprimento ao que foi acordado no plano de recuperação judicial. Além disso, a livraria forneceu informações incompletas que não satisfizeram as exigências judiciais.
Só voltando um pouquinho: no ano de 2018, a Livraria Cultura entrou com processo de recuperação judicial.
Naquela época o montante das dívidas beirava os R$ 285,4 milhões. No entanto, a partir de 2020, a entidade já estava na “corda bamba”, pois seus credores rejeitaram o plano de recuperação traçado.
E o juiz Ralpho Monteiro Filho salientou o seguinte em 2021: a crise econômica de 2014 e a pandemia de coronavírus agravaram a conjuntura da entidade.
Nesse mesmo ano de 2021, algumas dívidas de ordem trabalhista que deveriam ser quitadas, não foram concluídas ou pagas.
Atalhos
Mesmo com essa “bomba” agitando o mundo das corporações, há possibilidade de a Livraria Cultura recorrer da decisão de falência.
Porém, a situação da Cultura é complicada, pois, de acordo com informações apuradas, há suspeita de operações fraudulentas realizadas pelos sócios.
Em sua sentença, o juiz escreveu que sejam identificados todos os bens e documentos (incluam-se os livros) para posterior avaliação. Os ativos financeiros e contas em nome da Livraria serão bloqueados.
O passo a seguir é a confirmação da falência pela entidade, a qual é gerida por uma administradora judicial. Isso cumprido é que viria a parte mais dramática do enredo: o fechamento, lacração e apurar os ativos e passivos da companhia. Assim, a falência estaria consolidada e seria o fim absoluto.
Luto e velas
O anúncio da lamentável notícia fez com que a Câmara Brasileira do Livro manifestasse sua tristeza e ressaltasse que as livrarias continuam fundamentais para o mercado.
Entre os editores, o susto não foi tão grande, visto que parte das vendas literárias vem do meio virtual.
Alguns deles arriscam em dizer que a Livraria Cultura não se adaptou o suficiente à dinâmica observada na aquisição de livros.
Havia sinais de que a condução do negócio não ia bem, porque as editoras foram gradativamente parando de fornecer seus materiais e publicações à Livraria Cultura nos últimos anos. Mesmo com ações voltadas para a geração de negócios, os êxitos não se concretizaram.
No meio editorial, a preocupação advinda das Lojas Americanas é mais importante do que a falência da Livraria Cultura.
A insensibilidade de gente especializada no ramo contrasta com os parágrafos escritos pelo juiz Ralpho. Ele se manifesta que “é notório o papel da Livraria Cultura. E não apenas para a economia, mas para as pessoas, a sociedade, para a comunidade não apenas de leitores, mas de consumidores em geral”. Mais adiante, ele mostra sua tristeza ao perceber que o grupo não obteve a reação necessária para superar a crise que tomou conta de toda a entidade.