Elias e Sebastião perceberam que, diante do rompimento da barragem da mineradora Vale, em Brumadinho, eles estavam sem saída e tinham que pensar logo para poder sobreviver àquele pesadelo. Em uma caminhonete, eles ficaram fazendo zigue-zague, buscando achar um caminho que não estivesse tomado pela lama. No entanto, a lama já tinha se apoderado de tudo e restou a eles apenas rezar e tentar ter calma.
Conforme o depoimento deles divulgado pela Folha de S.Paulo, primeiro ouviu-se um estrondo numa das laterais do carro. Eram os rejeitos que balançavam o veículo.
Em seguida veio um outro estrondo. Aí eles perceberam que a coisa estava ficando pior. A reza deles começou a ficar gritada. Quando chegou no "amém", tudo parou.
A lama acabou levantando a caminhonete que ficou em posição diagonal. Sebastião estava em choque e teve que ser retirado do carro com a ajuda do amigo. Ao olharem por perto, encontraram um outro amigo apenas com a cabeça para fora pedindo por socorro. Rapidamente, eles ajudaram a tirar Leandro, que já estava com dificuldades de respirar diante da lama que apertava seus pulmões.
Leandro estava numa carregadeira e decidiu quebrar o vidro lateral com o pé ao ver vários vagões de trem voando em sua direção. Segundo ele, parecia "cena de filme".
Quebrar o vidro foi a opção que o ajudou a não ser engolido pelos rejeitos. A lama invadiu o para-brisa e soterrou a máquina toda.
Elias e Sebastião conseguiram puxar Leandro, que estava com a perna quebrada e presa na máquina. Logo após, chegou o helicóptero da Polícia Militar para socorrê-los.
Elias Nunes, 43, Sebastião Gomes, 53, e Leandro Cândido, 37, entraram para a lista das pessoas que conseguiram sobreviver diante de toda essa tragédia.
Até o momento, foram constatadas 121 mortes, sendo que 226 continuam desaparecidas.
A calma
De acordo com Elias, um fator importante que os ajudou foi ter calma. Ele acredita que o desespero poderia ter feito eles agirem diferente e acabarem sendo soterrados pela lama.
Elias disse que quando ouviu um barulho parecido com a explosão de uma dinamite, saiu correndo pegou a caminhonete e chamou Sebastião.
Tião, como é conhecido pelos funcionários, chegou a tropeçar para chegar a tempo de entrar na caminhonete.
Eles acabaram sendo cercados pela lama e Elias decidiu desligar a caminhonete com medo dela pegar fogo com os rejeitos que tinham na lama. Os dois decidiram começar a rezar já que estavam cercados pela lama.
Elias ressaltou a força da lama e a comparou como uma bomba atômica que, por onde passa, não deixa nada. Sebastião está há sete dias sem dormir e vive chorando. Ele está passando com um psiquiatra, que já receitou vários remédios para acalmá-lo.