Em entrevista à BBC News Brasil, publicada nesta quarta-feira (25), o escritor Paulo Coelho fez críticas ao presidente Jair Bolsonaro e alegou que essa atitude poderá lhe fazer perder leitores. A entrevista aconteceu em sua casa na Suíça, onde lembrou as torturas que sofreu em 1974, durante o regime militar. A simpatia do presidente pela época da ditadura militar (1964-1985) --que diz que não aconteceu-- e por práticas de tortura ocasionou a declaração do autor, que vendeu mais de 325 milhões de livros e tem mais de um bilhão de leitores.

O escritor afirmou que criticar Bolsonaro é um compromisso histórico.

"O compromisso histórico é não ficar calado. Eu tenho que falar. Vou perder leitores? Vou", disse o escritor. Paulo Coelho declarou estar muito triste pelo que está acontecendo no Brasil na atualidade, da queimada da Amazônia ao que chamou de "estado de negação".

Lembranças da tortura

Paulo Coelho detalhou o que padeceu dia 28 de maio de 1974, quando foi preso e os dias que se seguiram: os eletrochoques nas partes genitais e o acondicionamento nu e molhado numa espécie de geladeira. Sua prisão até hoje não tem um motivo certo, mas ele estima que foi devido a sua condição de letrista de música que os militares não compreendiam. "Eles achavam: bom, se está fazendo sucesso, se está todo mundo cantando, alguma coisa está errada", disse.

Seu parceiro, o cantor Raul Seixas, foi apenas interrogado, porque, acredita, não era quem fazia as composições, e sim Paulo, que foi considerado de alguma forma um sujeito perigoso.

Esse passado pode se tornar presente, ainda segundo o escritor, parodiando um tema que ele desenvolveu em um de seus últimos livros. Ele condenou ainda a censura a livros na Bienal do Rio de Janeiro, por ter obras de conteúdo homossexual.

"Eu sugeri que censurassem meu livro porque é um livro sobre prostituição", detonou. Mas não aconteceu nada com sua obra naquela exposição.

O escritor elogiou a atitude do youtuber Felipe Neto, que comprou 14 mil livros com temática LGBT e os distribuiu gratuitamente na Bienal. "Não só elogiei, senti uma certa inveja positiva.

(...) o cara teve essa ideia e eu não tive", disse o escritor.

Além das declarações negativas ao governo Bolsonaro, Paulo Coelho também comentou sua desilusão pelo PT, que apoiou, e reconhece o período positivo do país com Lula, mas que sentiu um retrocesso a partir de Dilma. "Não digo que os resultados dos governos Lula não foram bons, mas da Dilma já não foi. Já é uma coisa meio falsa", afirmou Paulo Coelho.