O colunista Helio Gurovitz do G1 analisou o tom áspero com que o o ex- presidente Luiz Inácio Lula da Silva vem se apresentando e especulou o que pode estar por trás disso. Após ser libertado, Lula vem decepcionando aqueles que esperavam dele um tom mais conciliador no debate político, ao invés disso, Lula vem apostando em um discurso belicoso direcionado ao Governo Bolsonaro.

Isto foi visto recentemente no Congresso do PT em São Paulo, o petista não poupou críticas à Operação Lava Jato, ao impeachment de Dilma Rousseff e também às reformas econômicas e às privatizações.

Lula se definiu como “o oposto de Bolsonaro” e disse que não é possível ficar no meio do caminho.

Não houve também por parte de Lula um reconhecimento dos erros de seu partido, tanto na condução da economia, extremamente criticada, da ex-presidente Dilma e também na repetição das práticas políticas que descambaram em um dos maiores escândalos de corrupção do Brasil.

Duas reflexões que podem ser feitas deste tom agressivo adotado pelo ex-presidente são: qual seria a utilidade dessa postura de Lula, tanto para ele, quanto para o PT, e também, de uma forma mais abrangente, para a esquerda do Brasil nas próximas eleições – 2020 e 2022 - a outra reflexão que pode ser feita é: qual seria o efeito desta postura radical de Lula em seus opositores, tanto nos apoiadores de Jair Bolsonaro, quanto naqueles atores políticos que buscam uma terceira opção, que não remeta a polarização vista no cenário atual.

O colunista do G1 dá uma possível resposta para o primeiro questionamento. Lula já recebeu duas condenações na Justiça e ainda é réu em outros sete processos, ainda que o petista venda a imagem de uma vítima de desvios jurídicos protagonizados por Sergio Moro, as provas acumuladas contra o ex-presidente vem encontrando acolhida nas várias instâncias da Justiça.

Estratégia

A Lei da Ficha Limpa torna o retorno de Lula à disputa eleitoral em 2022 algo extremamente improvável de acontecer, e por outro lado, nenhuma sentença que ele venha a receber da Justiça mudará o fato de Lula ser uma força política que não pode ser ignorada, assim, o discurso agressivo de Lula pode ser visto como uma estratégia que visa não necessariamente seu nome ao poder, mas sim trazer relevância para o PT.

Para aqueles que defendem uma alternativa ao petismo e ao bolsonarismo, o cenário é mais complicado. Os que não se assumem nem sendo de esquerda e nem pertencentes à direita, se autoproclamando como de “centro”, ainda não encontraram uma voz que fosse ouvida frente aos dois pólos que dominam o debate político atual, entre aqueles que são apontados como sendo de centro, estão os nomes de João Dória e Luciano Huck.

Os nomes citados acima ainda não têm discursos claros, se por um lado acenam com uma política econômica que flerta com o neoliberalismo, mas com uma agenda social mais ampla, eles repudiam a ideologia na agenda cultural que é demonstrada pelo governo Bolsonaro. Mas isto não representa um discurso coeso que possa ter uma compreensão do cidadão médio, até o momento, o “centro” é definido apenas pela negação dos dois pólos.