"A Primeira Tentação de Cristo", produção do Porta dos Fundos, tem sido causa de muitas reações contrárias. A primeira foi a tentativa de boicote por parte de grupos que consideraram o filme ofensivo à fé cristã. Outras reações incluem o ataque criminoso à sede da produtora. A pedido da Associação Centro Dom Bosco de Fé e Cultura, a Justiça do Rio de Janeiro determinou na quarta-feira (8), de forma provisória, que a Netflix retirasse do ar o título. Reação semelhante ocorre na Polônia, onde governo pede a exclusão do filme. No Brasil, a empresa recorreu ao STF e conseguiu liminar permitindo a manutenção da obra em seu catálogo.

Posicionamento do Porta dos Fundos e Netflix

O pedido de retirada da obra afirma que o especial de Natal do Porta dos Fundos "agrediu a proteção à liberdade religiosa" e justifica a acusação de ofensa à fé dizendo que "Jesus Cristo é retratado como um homossexual pueril, namorado de Lúcifer, Maria como uma adúltera desbocada e José como um idiota traído por Deus".

As empresas envolvidas, entretanto, compartilham outras opiniões.

"O Porta dos Fundos é contra qualquer ato de censura, violência, ilegalidade, autoritarismo e tudo aquilo que não esperávamos mais ter de repudiar em pleno 2020. Nosso trabalho é fazer humor e, a partir dele, entreter e estimular reflexões", afirma a equipe do Porta dos Fundos no perfil oficial da produtora no Twitter.

Na mesma rede social, a Netflix publicou: "sobre o especial do Porta dos Fundos: apoio fortemente a expressão artística e vou lutar para defender esse importante princípio, que é o coração de grandes histórias".

A Netflix entrou com recurso nas instâncias superiore,s considerando que decisão do desembargador Benedicto Abicair, que fez a liminar, fora um atentado contra a liberdade de expressão.

No recurso, a empresa declara que a decisão da Justiça do RJ não tem "qualquer previsão constitucional".

Liminar do STF

O ministro e presidente do Supremo, Dias Toffoli, apesar de não ser relator do caso, decidiu suspender de forma também provisória a decisão da Justiça do RJ nesta quinta-feira (9).

Apesar de afirmar que considera importante o respeito à fé ou à ausência dela, e dizer que não se pode descuidar com este assunto, o ministro escreveu na liminar "não é de se supor, contudo, que uma sátira humorística tenha o condão de abalar valores da fé cristã, cuja existência retrocede há mais de 2 (dois) mil anos, estando insculpida na crença da maioria dos cidadãos brasileiros".

O relator do caso é o ministro Gilmar Mendes, mas a Suprema Corte está em recesso até fevereiro, e gozando dos poderes de presidente do STF, Toffoli pode julgar questões que considerar urgente, usando isto para suspender o que considerou "censura".