Marcus Lacerda, pesquisador envolvido com o estudo sobre a cloroquina no Amazonas denunciou através de nota pública, nesta quinta-feira, 16, ameaças feitas por perfis falsos nas redes sociais. A pesquisa, que aplicou cloroquina a pacientes com covid-19 em estado grave, foi interrompida após a morte de 11 pessoas.

A Polícia Civil e a Secretaria de Segurança Pública do estado informaram, por meio de nota, que estão investigando o caso. Larceda, que é médico da Fundação de Medicina Tropical (FMT) e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) no Amazonas, coordenava as pesquisas que contavam com cerca de 70 estudiosos associados a diversas instituições, como as próprias FMT e Fiocruz, bem como a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Estadual do Amazonas (UEA).

Segundo o médico relatou ao portal G1, uma publicação sobre o estudo recebeu comentários e ameaças por parte de apoiadores de Jair Bolsonaro, que, entre outras ofensas, acusaram Lacerda de ser assassino.

A pesquisa ministrou doses de cloroquina a 81 pacientes infectados pelo coronavírus, mas foi interrompida depois que 11 deles vieram a óbito. Das pessoas que faleceram, 7 receberam uma dosagem maior do remédio.

Após monitoramento diário de cada paciente, os pesquisadores passaram a alertar para o potencial tóxico da substância, que apresenta sérios efeitos colaterais, dentre eles arritmia cardíaca. Os resultados fizeram com que o governo do Amazonas suspendesse o uso de dosagens maiores em pacientes.

Em postagens compartilhadas pelo Facebook, em grupos de apoiadores do presidente, montagens de cunho difamatório acusam Lacerda de ser um militante ligado ao Partido dos Trabalhadores (PT) e de ter assassinado os pacientes propositadamente a fim de prejudicar Bolsonaro.

De acordo com o médico, a campanha difamatória teve início após um ativista divulgar o estudo, classificando-o como irresponsável e alegando que ele teria usado pacientes como "cobaias humanas".

Lacerda garante que a pesquisa cumpriu todos os requisitos médicos e legais necessários e considera a interpretação do ativista e de seus seguidores equivocada, uma vez que as mortes não foram causadas pela cloroquina, já que todos os pacientes se encontravam em estado grave. O médico reforçou, em nota pública, que as taxas de mortalidade percebidas durante o estudo estão de acordo com a média mundial e que todos os registros se encontram disponíveis para verificação pública.

O compartilhamento em massa das acusações resultou em ataques não apenas a Lacerda, mas à sua família e aos demais pesquisadores envolvidos no estudo e que, por isso, estão sob vigilância direta da Polícia Militar.