O senso popular convencionou de que plantar e cultivar trigo só vale em países de clima temperado. Aqui no Brasil, é um tipo de cultura questionável e de risco, certo? Essa crença vem sendo derrubada pouco a pouco.

Visto como um cereal que adora climas mais amenos, a certeza de sua viabilidade tem, logicamente, as condições propícias no Sul do Brasil. Porém, isso vem mudando gradualmente, já que outras áreas vegetais acolhem e aceitam o trigo.

Tem em São Paulo

Os produtores paulistas estão radiantes com a estimativa de safra recorde para o estado em 2022: a possibilidade é de colher 400 mil toneladas de trigo.

Isso tem fundamento nas palavras do presidente da Câmara Setorial do Trigo, Victor Oliveira: “Este número será atingido se as condições climáticas desse ano forem favoráveis para o cultivo, o que levaria a um aumento da produtividade nos campos paulistas.”

Tanto entusiasmo dos triticultores se deve a uma produção baixa em 2021, cuja colheita foi de 255 mil toneladas, afetada sobretudo pelas geadas.

Ainda assim, os agricultores botam fé no cereal, porque sua cotação atual é atrativa, gerando mais rentabilidade financeira.

Em reunião do setor triticultor ocorrida em abril desse ano no formato híbrido, o trader Daniel Lima esboçou um cenário para os próximos meses. Mencionando a guerra que envolve Ucrânia e Rússia, ele acha que a oferta de trigo será um dos fatores que elevará o preço do cereal e, dentro desse cenário de restrição nas exportações dos dois países europeus, quem poderá se destacar no mercado do trigo será a Argentina, vizinho comercial e um dos principais fornecedores da commodity para o Brasil.

Incomodando gente

A tendência de ver os campos com mais trigo tem gerado um certo desconforto para alguns: um artigo publicado pelo jornal inglês “Financial Times” disse que os produtores do Brasil estão se aproveitando da alta do preço no mercado internacional para plantar mais.

Segundo a matéria, não se deve esquecer de que o Sul do país está saindo de uma estiagem.

Outro fator contrário está na importação de cerca de 85% dos fertilizantes usados na terra.

Na opinião de gente especializada no agronegócio, o artigo jornalístico reflete o medo do Hemisfério Norte em ter mais concorrência.

Profissionais da área alertam que os meses de março e abril foram chuvosos, o que terminou com a seca no Sul do país.

Já com relação à importação de fertilizantes, o brasileiro pode ficar tranquilo, pois os insumos a se utilizar na próxima safra, foram comprados antes de o conflito Rússia x Ucrânia acontecer. Portanto, um ciclo completo e promissor.

Ficha

Se ainda paira uma sombra a respeito da plantação e produção de trigo no Brasil, segue um panorama informativo e sucinto ao leitor sobre essa mais ou menos nova tendência: o Sul do Brasil concentra 88% de toda a produção, sendo que o Paraná figura no topo da lista. O Rio Grande do Sul vem em segundo lugar.

Até aí, pode não ser uma novidade, uma vez que essa região é tradicionalmente plantadora de trigo no Brasil. O que chama a atenção é o crescimento do plantio e da produção no Cerrado, especialmente no estado de Goiás.

Estima-se que a produção no Centro-Oeste aumente em 50%, quando se compara os números relativos a 2020 e 2021.

Com certa surpresa, Minas Gerais e Bahia também aparecem como produtores de trigo. A terra do “pão de queijo” possui a terceira maior área plantada do cereal.

Diante de tudo isso, uma coisa é certa: quando a terra é boa e a agricultura se baseia no conhecimento científico e no trabalho (muitas vezes cansativo e de possibilidade ou não da ajuda do clima) vindo dos braços daqueles que vivem na zona rural, o sucesso é garantido e pode superar a expectativa.