Um estudo coordenado pelo professor Daniel Stariolo, do Departamento de Física da Universidade Federal Fluminense (UFF), publicado no repositório acadêmico arXiv na terça, 12, apontou que gotículas com o novo coronavírus podem permanecer no ar por mais de 15 horas em locais fechados, sem correntes de ar ou ventilação.
De acordo com Stariolo, o objetivo da pesquisa foi de oferecer dados matemáticos para demonstrar como o vírus pode se movimentar no ar e as possíveis consequências na sua capacidade de transmissão e infecção.
Os resultados mostram que gotículas maiores de aerossol, apesar de caírem rapidamente no chão, podem se deslocar a uma distância de até 3 metros de quem tossiu.
Gotículas menores, por sua vez, podem permanecer no ar por muito mais tempo, algumas delas ultrapassando o período de 15 horas quando se encontram em ambientes fechados, como em locais com ar-condicionado —nos quais não há o costume de deixar janelas e portas abertas.
Essas microgotículas são muito mais numerosas do que as maiores. Com isso, segundo Stariolo, as descobertas reforçam as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS). As pessoas devem manter o distanciamento umas das outras e é necessário o uso de máscaras para reter ao menos parte dessas gotículas.
Transmissão do coronavírus pelo ar
Um estudo desenvolvido por pesquisadores chineses e divulgado no início de abril mostrou como um grupo de pessoas foi infectado pelo vírus em um restaurante na cidade portuária de Guangzhou, na China.
Segundo o artigo, que será publicado na edição de julho do periódico Emerging Infectious Diseases, do Centro de Controle e Prevenção de Doenças do governo dos Estados Unidos, um episódio ocorrido em janeiro aponta um sistema de ar-condicionado como causa da infecção de 9 pessoas dentro de um restaurante.
O local tem uma área de cerca de 145 m² e a distância entre cada mesa é de aproximadamente 1 metro.
Uma pessoa infectada pelo coronavírus, mas assintomática, esteve no estabelecimento em 24 de janeiro e almoçou com 4 membros de sua família. Mais tarde, no mesmo dia, uma pessoa que estava no restaurante procurou o hospital com febre e tosse persistente e foi constatado que havia sido contaminada pelo vírus.
Ao todo, até o dia 5 de fevereiro, foi registrado que 4 membros da família daquele primeiro indivíduo infectado estavam com a covid-19, além de 5 pessoas que se sentaram nas mesas vizinhas naquele mesmo restaurante, no dia 24.
Os pesquisadores explicam que, entre os indivíduos não pertencentes à primeira família e que haviam se infectado, o único histórico de exposição a alguém contaminado se deu no próprio restaurante, quando almoçaram no mesmo momento em que o sujeito assintomático se reuniu com familiares.
O estabelecimento não tem janelas e conta com um forte ar-condicionado, que os cientistas acreditam ter sido o principal propagador do coronavírus no ambiente, pois parte das pessoas infectadas estava a mais de 1 metro de distância do primeiro portador do vírus.