Michael Ryan, diretor do Programa de Emergências Sanitárias Globais da Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou, em reunião para divulgação do último relatório global na sexta-feira (22), que a América do Sul se tornou o novo epicentro da pandemia causada pelo coronavírus.
Segundo Ryan, o país mais afetado no continente sulamericano é o Brasil, que registra, até este domingo (24), 347.398 casos confirmados de infectados pelo coronavírus e 22.013 óbitos. Embora o maior número de casos esteja no estado de São Paulo, as taxas de transmissão no Amazonas são as mais altas, contabilizando aproximadamente 490 infectados a cada 100 mil habitantes.
Depois do Brasil, o país mais afetado na América do Sul é o Peru, com 104 mil casos registrados pela OMS, que teve suas medidas de confinamento estendidas até o dia 30 de junho. O anúncio, realizado na sexta-feira pelo presidente Martín Vizcarra, apontou também um prolongamento do estado de emergência no país, decretado em 16 de março.
Além do isolamento social obrigatório, o Peru adotou, desde março, o toque de recolher. Em seu último pronunciamento, Vizcarra determinou uma redução dos horários nas diferentes regiões do país, de acordo com o número de casos e as taxas de contaminação. Quanto aos serviços e às atividades comerciais, permanecem funcionando apenas atividades essenciais, como produção e venda de alimentos, farmácias, bancos e serviços públicos.
OMS não indica uso de cloroquina para tratamento da covid-19
Ainda na reunião da sexta-feira, Michael Ryan declarou que a Organização não apoia a medida do governo brasileiro de recomendar o uso de cloroquina para se tratar a Covid-19. De acordo com o diretor, as análises clínicas não corroboram a utilização do medicamento contra a doença provocada pelo coronavírus.
Além disso, há riscos adicionais associados ao remédio, indicado no tratamento de malária e doenças autoimunes específicas.
O presidente Jair Bolsonaro vem defendendo a aplicação da cloroquina para se tratar pacientes contaminados pelo vírus apesar de não haver testes clínicos que demonstrem a eficácia da substância. Na quarta-feira (20), o Ministério da Saúde, pressionado por Bolsonaro, divulgou um protocolo a fim de permitir o uso da cloroquina até mesmo em casos nos quais o paciente apresenta sintomas mais leves da Covid-19.
O Ministério distribuiu 3,4 milhões de doses da droga para os sistemas de saúde estaduais.
A decisão de ampliar a recomendação de aplicação da cloroquina para casos leves da doença foi criticada por diversos especialistas, dentre elas Julio Croda, infectologista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que atuou como diretor do Departamento de Imunização e Doenças Transmissíveis quando o Ministério era comandado por Luiz Henrique Mandetta.
Para Croda, haverá pressão popular para que médicos receitem o medicamento, o que ocasionará uso indiscriminado da substância que tem, entre seus efeitos colaterais, a arritmia cardíaca. Isso pode resultar em complicações para a saúde de pacientes e, caso sejam afetados negativamente, o profissional poderá ser legalmente responsabilizado.